De Wander Antunes
80 páginas
Conrad | 2024
De um lado, uma cangaceira temida, líder de seu bando, de outro, uma jovem sem voz que se vê à mercê dos homens ao seu redor. Duas mulheres, Ventania e Mudinha, vivendo a realidade patriarcal do sertão do início da década de 1940. Lampião está morto e o cangaço já não é mais o mesmo, mas os coronéis e jagunços continuam exercendo o seu poder. O Silêncio e a Tempestade, de Wander Antunes, é uma história sobre esses tempos, essas mulheres, e sobre sua força, cada uma à sua maneira, para sobreviver a um mundo que não foi feito para elas.
Ao longo da trama, o quadrinista evidencia a dominância masculina, entranhada na cultura do povo, de modo que uma figura como Ventania, que decide tomar conta de si, seja vista como uma afronta, além de, claro, uma ameaça. Através dos diálogos, o leitor pode conhecer melhor esse tempo e suas características, afinal, são as interações entre os personagens que ditam o ritmo dessas duas histórias que correm em paralelo e rumam para um mesmo caminho. Essa decisão funciona muito bem e dá mais dinamicidade ao roteiro e ainda a oportunidade de o leitor avaliar por si só cada núcleo, suas semelhanças e diferenças.
Embora a conclusão não surpreenda, a jornada é envolvente. À medida que o enredo avança, somos levados a refletir sobre a resistência feminina em um ambiente sufocante, onde as ferramentas de sobrevivência podem ser distintas e se conformar muitas vezes acaba sendo o caminho aconselhado.
Na arte, a paisagem árida se destaca, assim como as expressões dos personagens, principalmente os homens. As escolhas de enquadramento e montagem das páginas não subestimam quem lê e dão ainda mais fluência à trama.
Publicado pela Conrad, O Silêncio e a Tempestade prova mais uma vez como Wander Antunes tem o domínio da narrativa em quadrinhos e é habilidoso na arte de contar histórias do Brasil profundo de outros tempos, sem pender para os estereótipos.