De Alejandro Jodorowsky e Theo
232 páginas
Conrad | 2024
Tradução: Eduardo Nasi
Em uma linha muito similar à de Bórgia, Alejandro Jodorowsky escreve O Papa Terrível como uma história de devassidão nas entranhas da Igreja Católica do século XVI. Os excessos estão ao longo de todo o quadrinho, que retrata o pontificado nada santo de Júlio II.
Sucessor de Rodrigo Bórgia, de quem era rival, Júlio II também carrega um currículo histórico cheio de intrigas políticas, além de seus feitos mais conhecidos, o início da construção da Basílica de São Pedro e a pintura do teto da Capela Sistina. A HQ retrata o papa como um homem ganancioso, que não media esforços para manter seu poder na Igreja, mesmo que isso envolvesse não apenas os inimigos internos, mas também países vizinhos como a França e a Espanha.
Mesmo que use base histórica, O Papa Terrível está longe de se ater aos fatos ou se preocupar com qualquer precisão. Jodorowsky insere personagens contemporâneos, com os quais o papa realmente conviveu, como Rafael Sanzio, Michelangelo e Maquiavel, este último citou o papado de Júlio em seus escritos e, no quadrinho, é apresentado como seu braço direito. Ao mesmo tempo, o roteirista cria relações ficcionais, e usa de muito homoerotismo para conduzir os eventos.
Por mais que situações chocantes sejam esperadas, o roteiro as aproveita várias vezes como artifício para simplificar alianças e desavenças, por mais complexas e intrigantes que pareçam. O resultado é repetitivo, afinal, com o passar dos capítulos, sabemos como Júlio II irá resolver aquela situação: alguma ideia mirabolante que envolva um bocado de sexo.
O desenhista Theo parece usar como referência imagens da renascença, período em que a HQ se passa. Rostos expressivos, corpos delineados e erotismo são destaque nas páginas, que funcionam muito bem para a proposta.
Publicado pela Conrad, O Papa Terrível é cheio de conflitos, sensualidade e atitudes inesperadas de alguém que seria o representante divino na Terra. Porém também é notável como essa história tenta nos levar aos bastidores da Igreja, mas entrega, no lugar, um quadrinho que se limita mais ao tom hiperbólico.