De Lark
252 páginas
Arte e Letra | 2023
Por que um pássaro iria trabalhar? Para comprar uma TV Smart, oras! Esse é o grande objetivo do sabiá Roberto, quando decide se candidatar a uma vaga na startup Catch.co, liderada por um gato que só contrata passarinhos. Nada suspeito. Em O Livro dos Pássaros, Lark constrói uma história deliciosa sobre relações de trabalho, consumo e até ousa responder uma pergunta que domina nossos dias: qual deveria ser seu objetivo na vida?
Embora Roberto seja nosso guia para adentrar à Catch.co, o quadrinho tem uma porção de outros personagens igualmente interessantes. A gerente Cristal, que se entope de café para render mais; o romântico Zé, do atendimento ao consumidor; a secretária Amanda, que não perde a oportunidade de um atestado; o designer Mateus, um corvo leitor de Sandman e Poe; e o senhor Catch, preocupado com a suculência de seus funcionários, mas sempre disposto a fazê-los trabalhar à exaustão. Como ser bem-sucedido em uma empresa comandada pelo predador é apenas um dos dilemas dos nossos passarinhos.
Publicado originalmente em formato de tiras nas redes sociais de Lark, O Livro dos Pássaros tem uma dinâmica em que várias das tiras funcionam isoladas, porém o grande mérito aqui é a construção mais ampla da história. Não é à toa todo o sucesso desta publicação, é inevitável que os leitores se sintam identificados com alguma situação da trama, que é uma grande crítica ao mundo corporativo. Isso é feito, sobretudo, através do humor, com anedotas envolvendo a natureza dos animais e metáforas para questões humanas complexas.
O design de personagens é bastante objetivo, focado na distinção dos personagens. Lark mantém um layout de páginas (originalmente tiras) praticamente fixo e consegue desenvolver muito bem a proposta a partir disso, com foco especial nos diálogos.
Rindo de nervoso talvez seja a melhor maneira de descrever a reação provocada pela leitura de O Livro dos Pássaros. Ao mesmo tempo que ficamos fascinados pela criatividade da proposta, há um imenso elefante na sala. Aquele que nos questiona sobre o peso que o trabalho tem nas nossas vidas, ou sobre se precisamos mesmo fazer tudo isso para comprar uma TV Smart.