De Bruno Alves, Eron Villar, Fábio Paiva, Lua, Luciano Félix, Marcos Santana e Thaïs Kisuki
80 páginas
Independente | 2023
“A fome não é um fenômeno natural. É um fenômeno social, produto de estruturas econômicas defeituosas”, dizia Josué de Castro, em Geografia da Fome. O projeto de vida do pernambucano foi erradicar esse problema, torná-lo uma questão pública, urgente. Não à toa, foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel e teve obras traduzidas para dezenas de países. Desde o nome, a HQ “Ô Josué” se dedica a nos apresentar esse personagem histórico brasileiro. Mas também apresenta medo, fome, luta e mangue, misturados em quatro histórias.
Feito por muitas mãos, o quadrinho de Adriano dos Anjos, Bruno Alves, Eron Villar, Fábio Paiva, Lua, Luciano Félix, Marcos Santana e Thaïs Kisuki funciona como biografia, mas não se limita a isso. É porque Josué também é uma ideia, está presente até nas histórias que não o tem como protagonista, como é o caso da que abre o álbum.
Ao longo da leitura, conhecemos mais sobre a vida do pensador, médico, geógrafo… multiprofissional. Sua vida é emparelhada à sua luta, às mudanças políticas brasileiras e à sua produção bibliográfica. Portanto, se o leitor não fizer ideia de quem Josué de Castro foi, terá nesta obra a oportunidade de conhecê-lo de perto. A coletânea ainda é altamente marcada pelo cenário pernambucano e pelo som de Chico Science e seu “Da Lama ao Caos”.
A variedade de estilos beneficia muito “Ô Josué”, com visuais bem distintos entre si. Destaque para o traço marcado de Luciano Félix e para o realismo de Lua, com páginas que parecem mais colagens, cheias de referências.
Apesar de cumprir muito bem sua proposta, o quadrinho poderia até se desprender um pouco mais de seu personagem central. Ao final, além da bonita homenagem, há uma sensação de repetição, já que alguns fatos são recontados em duas histórias diferentes.
O problema da fome persiste, por motivos que ficam bem nítidos em “Ô Josué”. O maior mérito do quadrinho é nos aproximar deste grande pensador, enquanto seu legado persiste, em um Brasil diferente, mas ainda muito semelhante ao que Josué conheceu.