De Jean Van Hamme e Grzegorz Rosinski
184 páginas
Comix Zone | 2024
Tradução: Fernando Paz
O Grande Poder do Chninkel carrega vários dos elementos clássicos das fantasias franco-belgas dos anos 1980, mas não se contenta com a mesmice. A HQ de Jean Van Hamme e Grzegorz Rosinski, mistura referências em uma saga instigante, que equilibra a grandiosidade dos épicos à acidez das sátiras.
J’on é um chninkel, uma raça escravizada, em um mundo marcado pela guerra e pela opressão de três tiranos. Porém, esse ser pequeno e frágil é também um messias, que recebeu a missão divina de restabelecer a paz no mundo e, com ela, o chamado “grande poder”. O conceito messianico não é coincidência, O Grande Poder do Chninkel revisita, com ironia, mitos religiosos e passagens bíblicas.
Diante de um mundo bárbaro, o pequeno J’on pode parecer insignificante, mas logo ele passa a ter um séquito de seguidores: outros chninkels que acreditam que ele é mesmo o salvador, o ser escolhido de uma antiga profecia. No entanto, o próprio J’on duvida do tal “grande poder” e sua negação de seus atributos divinos é parte daquilo que torna a HQ tão interessante. A progressão da saga e a construção da personalidade do protagonista são alguns dos destaques da obra, que é sagaz no humor, sem partir para uma sátira propriamente dita.
A arte de Grzegorz Rosinski é poderosa, perfeita para dar o tom épico e sombrio que a história pede. Porém, assim como dissemos sobre Em Busca do Pássaro do Tempo, também lançado pela Comix Zone, é preciso que O Grande Poder do Chninkel seja lido dentro de seu contexto e de seu tempo. A erotização está presente em várias cenas, muitas delas absolutamente gratuitas, como é de costume em obras do gênero naquele período de produção.
Uma leitura agradável e bastante fluída, O Grande Poder do Chninkel pode ser considerado uma fantasia como pretexto para uma reflexão sobre fé e poder… mas ao longo da leitura não é possível sentir que essa era a pretensão. Enquanto passamos as páginas, estamos de fato lendo uma história fantástica, que vai além do que o gênero pode oferecer.