De Paco Roca
144 páginas
Devir | 2025
Tradução: Claudio Martini
Duas histórias do início da carreira, bastante diferentes entre si, mas que já apontam para elementos que tornaram marcas reconhecíveis na obra de Paco Roca. Em “O Farol / O Jogo Lúgubre”, o autor traz a memória do seu próprio país, a Espanha, sem deixar de abordar questões universais.
Na primeira história, O Farol, um jovem soldado ferido surge na costa de um farol após fugir da Guerra Civil Espanhola. Ali, encontra não só a amizade do faroleiro, mas à medida que a relação se desenvolve, também um novo sentido para a vida, algo que a guerra havia lhe tirado. Entre sonhos e esperanças, ele aos poucos deixa para trás o passado e reúne forças para seguir em frente.
Com narrativa ágil, tom acolhedor e poético, a trama parte de uma história real, contada nos extras da edição, e resulta em uma leitura bastante agradável.
Já em O Jogo Lúgubre, a segunda história, a trama não nos encantou tanto. Roca constrói uma HQ típica de horror, inspirada em capítulos da autobiografia fictícia de Jonás Arquero, secretário de Salvador Dalí, aqui parodiado como Salvador Deseo. Em 1936, meses antes da eclosão da Guerra Civil, Deseo deixa Madri e se refugia no interior da Espanha. É para lá que viaja Jonás, contratado como secretário desse artista excêntrico e temido pelos moradores locais. O que parecia ser apenas um trabalho, se torna uma experiência inquietante, à medida que Jonás descobre mais sobre seu patrão.
Por trás dessa reimaginação macabra da figura de Dalí, há uma Espanha tomada pelo avanço do fascismo e uma reflexão sobre como a liberdade artística era encarada na época.
Quanto à arte, é na primeira história que se percebe um traço mais próximo do estilo atual do autor. Assim como o roteiro, o visual em O Jogo Lúgubre ainda está um degrau abaixo da primeira história.
Hoje um artista de renome mundial, Paco Roca percorreu um caminho até consolidar sua identidade, e “O Farol / O Jogo Lúgubre”, ainda que de forma mais tímida, já revela traços que mais tarde se tornariam símbolos de sua obra.