De Héctor G. Oesterheld e Francisco Solano López
372 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Letícia Ribeiro Carvalho
Clássico absoluto dos quadrinhos, O Eternauta é daquelas leituras que são uma experiência completa. Héctor G. Oesterheld e Francisco Solano López produziram uma ficção científica envolvente, repleta de camadas, que se tornou um clássico dos quadrinhos argentinos.
A HQ, que foi publicada de forma seriada na revista Hora Cero entre 1957 e 1959, nos mergulha em um cenário angustiante. Uma nevasca radioativa toma conta de Buenos Aires e dizima boa parte da população. Alguns dos poucos sobreviventes são Juan Salvo, sua esposa e filha, além de um grupo de amigos que estavam na casa do protagonista. Apesar de assustadora e letal, a neve é apenas o começo do pesadelo que eles testemunhariam.
Oesterheld mantém o clima de tensão constante, enquanto alimenta os mistérios ao longo das mais de 300 páginas do quadrinho. Ao mesmo tempo em que apresenta marcas de seu período original de publicação, O Eternauta é impressionantemente moderno em sua execução, sobretudo na construção dos diálogos e do desenvolvimento dos personagens. Até mesmo os vilões, que poderiam ser completamente unilaterais, se tornam complexos e dignos do olhar atento dos leitores.
É possível ler essa ficção científica de forma mais literal, ou abraçar todo o contexto argentino e latino-americano. Tendo em vista a história de Héctor G. Oesterheld, é inevitável perceber como a HQ está mergulhada em suas convicções e visão de mundo, mesmo que isso não esteja na superfície o tempo todo.
A arte de Francisco Solano López é outro ponto alto da obra, desde as expressões dos personagens, até as escolhas da narrativa gráfica. Nesta edição remasterizada publicada pela Pipoca & Nanquim, em que o visual é mais detalhado e refinado, é possível perceber ainda mais como a contribuição do desenhista foi essencial para O Eternauta se tornar essa sumidade dos quadrinhos.
O Eternauta é uma experiência de leitura completa por ter alguns dos vários elementos que tornam um quadrinho marcante, além de todo o subtexto presente. Uma publicação de quase 70 anos ainda se manter tão fresca é, sem dúvidas, um atestado de sua qualidade e da força do quadrinho latino-americano.