De Alberto Breccia e Oesterheld
64 páginas
Comix Zone | 2019
Tradução: Thiago Ferreira
Em uma versão potencializada pelos traços do mestre Alberto Breccia, Oesterheld trouxe de volta seu clássico O Eternauta para as páginas da revista Gente, em 1969. Angustiante e claustrofóbica, a nova versão também possui um tom político bastante acentuado no roteiro. Com o mesmo corpo da primeira versão, publicada no fim da década de 50 e trazendo na arte Solano López, O Eternauta continua a acompanhar Juan Salvo, sua família e seus companheiros em sua luta para sobreviver a uma súbita nevasca mortal.
O desenrolar do roteiro se mantém firme, e bastante fluido, até boa parte da segunda metade da HQ. Aos poucos, vamos percebendo a origem do caos que assolou Buenos Aires e nos empolgamos com a luta que Salvo trava para combatê-lo. No entanto, devido ao cancelamento repentino da publicação, Oesterheld precisou resumir quase metade de sua história em cerca de dois capítulos. Dificilmente uma atitude tão drástica não afetaria a resolução da trama. Infelizmente, é isso que podemos ver: um desfecho precipitado, mesmo que redondo.
O término da publicação diz muito sobre o incômodo que a obra estava causando. Embora o argumento do editor fossem os desenhos “confusos” de Breccia, sabemos que aquela era somente a ponta do iceberg. A maneira como o ilustrador experimenta e incomoda o leitor em cada quadro da HQ apenas contribui para o tom mais denso de O Eternauta 1969 e, sem dúvidas, foi um grande diferencial para nós.
Acima de tudo, O Eternauta é um quadrinho político e necessário. As páginas cortadas afetam, sim, a obra como um todo, mas trazem consigo uma história por si só. A história de como a arte incomoda os conformados, os totalitários. Por isso, obras como essa merecem ser lidas, publicadas, republicadas e compartilhadas.