De Simon Lamouret
208 páginas
Nemo | 2021
Tradução: Renata Silveira
Em O Alcazar, Simon Lamouret nos apresenta a Índia a partir do canteiro de obras de um edifício em um bairro residencial de luxo. Acompanhando o cotidiano dos funcionários que trabalham ali, conhecemos mais sobre um país de uma desigualdade social absurda. Triste, real e muito dura, a HQ nos deixa com a consciência perturbada por saber que existe tal realidade. E mais, mesmo retratando um local distante do Brasil, sabemos que existem tantas semelhanças com o nosso país. Tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto.
O Alcazar é o tipo de história que traz, a partir de uma visão microscópica, neste caso da Índia contemporânea, uma noção macro do país. Ao longo da leitura, o autor aborda religiões, costumes, desigualdade, relação entre funcionário e patrão e muito mais. Tudo pautado ali, em recortes da vivência de dezenas de personagens num canteiro de obras, do início da construção, até a entrega aos proprietários.
É impressionante ver o contraste daquela dura realidade dos funcionários, com a vida da burguesia indiana no entorno da construção. Enquanto eles dormem em barracas, na própria área da obra, sem qualquer conforto ou higiene, os “vizinhos” desfrutam de uma vida luxuosa. Sem contar na discrepância de realidade e perspectiva entre os próprios funcionários. Os “peões”, mestres de obras, engenheiros e empresários, todos lidam de diferentes formas com a construção, com interesses e reações das mais variadas.
A arte de Simon Lamouret é muito bela e a utilização dos tons laranja e azul realça a ambientação da HQ. Destaque para as splash pages, que além de trazerem mais detalhes do traço do autor, funcionam para marcar a passagem de tempo na história.
Assim, a Nemo acerta mais uma vez. O Alcazar é um baita quadrinho, que pode até parecer menor do que realmente é. Mas, quando paramos para pensar em todas as temáticas com as quais ele se relaciona e evoca, enxergamos a potência presente aqui.