De Helena Cunha
64 páginas
Independente | 2024
Em “Não Sou Orlando”, Helena Cunha mostra todo seu potencial como quadrinista. A HQ, que surgiu como um projeto de adaptação de Orlando, de Virginia Woolf, se transforma em um livro de memórias intimista, em que a autora olha para dentro de si, mas não deixa de lado a proposta que nasceu na literatura.
A adaptação de Orlando não fluía como Helena esperava, outras lembranças tomavam a mente da autora à medida que ela tentava transpor o livro para os quadrinhos. É nesse tom metalinguístico, que faz o leitor acompanhar a gênese da obra que tem em mãos, que Helena intercala lembranças da descoberta de sua própria sexualidade com a história que Virginia Woolf criou para homenagear sua amante Vita Sackville-West. A tudo isso se somam as memórias de uma amizade, que marcou a quadrinista profundamente.
Poderia ser uma miscelânea, mas Helena Cunha consegue abordar todas essas temáticas com muita fluidez e naturalidade em “Não Sou Orlando”. O modo como traça paralelos ou deixa que o leitor os trace por si mesmo, ou como nos convida a encarar suas memórias é sensível e muito agradável. A leitura é rápida, afinal são apenas 62 páginas, mas tudo está ali. Nada soa apressado ou superficial, a quadrinista consegue a síntese perfeita.
O traço segue um pouco da identidade já conhecida dos trabalhos anteriores da artista, no entanto, aqui há mais detalhes e é possível perceber que Helena encontrou a elegância em seu próprio estilo.
“Não Sou Orlando” é emocionante, sem apelar para o melodrama. É executado com precisão, através de um notório esforço da artista, e ao mesmo tempo traz uma naturalidade ímpar. Em resumo, é um quadrinho encantador, que merece ser lido.