De Kazuichi Hanawa
240 páginas
Comix Zone | 2025
Tradução: Drik Sada
Em Na Prisão, Kazuichi Hanawa transforma sua própria experiência como detento em uma obra de observação sobre a vida carcerária no Japão dos anos 1990.
Condenado a três anos por posse ilegal de armas de fogo, o autor evita o caminho previsível da denúncia ou do moralismo e entrega ao leitor um retrato minucioso da rotina na prisão, descrita com tantos detalhes de forma bem didática.
O resultado é um mangá propositalmente monótono e repetitivo, cujo propósito de Hanawa é evidente. Sua narrativa insiste nos rituais diários, como as refeições, descritas com minúcia, ou os cuidados de higiene, que vão dos banhos ao simples ato de cortar as unhas. Nada aqui é “extraordinário” e é justamente essa banalidade que dá corpo à obra.
Ao enfatizar a cadência da prisão, Hanawa envolve o leitor em uma experiência que reflete o próprio confinamento. Se você está se perguntando se a repetição exagerada incomoda, sim, é algo maçante e prejudica o ritmo da leitura, apesar de entendermos que faz parte da proposta narrativa.
Um ponto instigante é a maneira como o autor retrata a aceitação desse cotidiano. Há frustração, mas também um certo conforto melancólico em se adaptar às regras, em se perder no automatismo da rotina.
A arte de Hanawa segue o tom quase documental da narrativa. Seu traço a lápis é meticuloso e realista, mas, em determinados momentos, o autor recorre a formas grotescas que quebram a monotonia visual.
É inevitável a comparação com o sistema prisional brasileiro. Ainda assim, o mangá publicado pela Comix Zone não permite qualquer romantização. O vazio e a melancolia estão sempre presentes, independentemente das condições prisionais.