Meu Amigo Kim Jong-un

14 novembro 2024

De Keum Suk Gendry-Kim
292 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Yun Jung Im

Kim Jong-un é o tipo de personalidade que desperta reações acaloradas. Quando Keum Suk Gendry-Kim revelou que o líder da Coreia do Norte seria o tema de seu próximo quadrinho, já se pôde perceber pelas reações do público que o assunto gerava mais do que um simples debate. No entanto, o que a autora sul-coreana propõe é uma reflexão serena, que se aproxima ao máximo da neutralidade.

O tom neutro está presente sobretudo na sensibilidade com a qual a quadrinista constrói a obra, sem pintar Kim Jong-un como um louco ou torná-lo uma figura abominável. Na verdade, “Meu Amigo Kim Jong-un” nem é exatamente sobre o homem que está no título. Este é um quadrinho sobre viver em um país dividido há décadas. Especialmente sobre viver próximo à fronteira, em um período em que a movimentação de mísseis entre os dois lados só cresce.

Para falar sobre um assunto tão complexo quanto o país ao norte, Keum Suk Gendry-Kim precisaria entender melhor o seu líder, apesar da dificuldade de encontrar dados precisos. É nesse ponto em que o roteiro se centra mais no líder norte-coreano. Não há qualquer tentativa de desumanizá-lo. Muito pelo contrário, a autora busca compreender essa figura para prever seus passos. Passos que impactam diretamente a vida de Keum Suk e de outros cidadãos nas duas Coreias.

Fazer o leitor acompanhar o processo de produção da HQ, enquanto a quadrinista fazia entrevistas, é um recurso já bastante comum, mas dá um tom mais pessoal à proposta de “Meu Amigo Kim Jong-un”. Na arte, a variação entre estilos mais realistas e caricatos, às vezes até com um toque bem-humorado, é muito bem empregada. O uso de duas cores traz impacto, principalmente quando usadas para compor o cenário, para explorar as entrelinhas das falas dos entrevistados.

Publicado pela Pipoca & Nanquim, “Meu Amigo Kim Jong-un” mostra mais uma vez o quanto Keum Suk Gendry-Kim consegue transmitir sinceridade em seus trabalhos. O resultado é um quadrinho sem a necessidade da precisão biográfica, em que é possível ouvir opiniões distintas. Uma obra em que o leitor pode refletir sobre como a paz é uma urgência para quem, há gerações, vive em um país dividido.

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