Ao longo de cinco meses, a Mangateca DICRIA, biblioteca comunitária especializada em mangás localizada no Morro do Fallet, no Rio de Janeiro, recebeu jovens e crianças para a Jornada Mangaká. O projeto, que começou em abril e foi concluído em setembro, contou com aulas de desenho e letramento e rendeu a publicação de um mangá produzido em conjunto pelos participantes da oficina.
Inaugurada em 2022, a biblioteca comunitária atende jovens e crianças da comunidade, que têm acesso ao acervo de mangás e a diversas atividades. A ideia da Jornada Mangaká surgiu da própria experiência de receber as crianças nesse espaço, conta Pamela Pereira, coordenadora do projeto ao lado de seu fundador, Ed Cura. “Foram as necessidades e interesses que observávamos todos os dias que nos inspiraram e moldaram o projeto. Vendo a relação das crianças com o espaço que construímos e com o universo dos mangás: algumas relendo a mesma história várias vezes com a vontade de criar algo parecido, outras, mesmo sem o letramento completo, se esforçando para entender a história pelas imagens ou pedindo nossa ajuda na leitura. Também existiram os jovens que, por vontade própria, já criavam seus roteiros, ilustrações e personagens”, explica.
Os meses de aulas e todas as experiências compartilhadas entre professores e alunos tornam bem claro o motivo do projeto ter esse nome. “Foi realmente uma grande Jornada. E, quando estávamos chegando ao fim, percebendo que aquilo estava mesmo se tornando realidade, o sentimento era uma mistura de felicidade e alívio. Ficamos ansiosos para que eles vissem o resultado e cheios de orgulho por eles terem chegado até ali”, conta Pamela. A coordenadora relembra ainda como acompanhar esse processo de aprendizagem envolveu as mais diferentes emoções para os alunos, “eles foram de grandes alegrias e empolgações, a grandes frustrações e desistências. Tal qual, bons artistas”, brinca.
A iniciativa contou com o patrocínio do Governo Federal, representado pelo Ministério da Cultura, e da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, além do apoio da Oi. A Mangateca DICRIA, que promove o projeto, é uma criação do Anime DICRIA, página do Instagram que alcançou mais de 85 mil seguidores ao trazer personagens de animes e mangás para cenários urbanos do Rio de Janeiro.
O mangá criado pelos alunos será disponibilizado gratuitamente online, como parte da crença dos organizadores na democratização da leitura. “Além disso, distribuiremos volumes físicos para todos que, de alguma forma, estiveram ao nosso lado na construção da Mangateca Comunitária e da Jornada Mangaká”, conta Pamela.
Após a conclusão da primeira Jornada, nada mais justo que o mangá tenha novos volumes. “Recentemente, começamos a colocar no papel as idealizações para uma segunda edição desse projeto”, explica a coordenadora. Uma curiosidade é que a obra traz personagens que apresentam e introduzem as histórias de cada criança. Esses personagens foram criados e inspirados pela Mangateca e pelo Anime DICRIA. “Eles têm seus próprios enredos e histórias que podem ganhar vida a qualquer momento, para além da Jornada”, ou seja, é possível esperar novas narrativas.
A Jornada Mangaká é um projeto de fomento, não só do lado artístico e lúdico das crianças e adolescentes, como também da leitura. Projetos como este transformam vidas e podem ser a incubadora para novos artistas, novos quadrinistas, novos sonhadores. “Isso perpetua, ter pessoas que acreditaram em você, te ensinaram e deram a estrutura para alcançar algo assim. Eu acredito nisso porque, quando criança, gostaria que alguém tivesse me estimulado a sonhar e feito algo parecido por mim”, conclui Pamela.