De Orlandeli
128 páginas
Independente | 2024
Smith não consegue mais contar histórias, elas simplesmente se perdem em sua mente. O marinheiro não se conforma, ele sempre foi tão bom nisso… Mas Smith sabe onde encontrá-las, por isso volta para o mar. “Mais uma história para o velho Smith” é uma nova prova — como se fosse necessário — da capacidade de Orlandeli de tocar em assuntos profundos com sutileza. O marinheiro que perdeu a capacidade de se lembrar das histórias é um personagem perfeito para falar de memória.
Quando retorna ao mar, onde alguma história deveria lhe aparecer, Smith se depara com personagens curiosos. De imediato, nada pode parecer fazer muito sentido, mas à medida que a trama avança, percebemos como o autor construiu tudo milimetricamente. A sutileza está na construção das alegorias nada óbvias para os temas, sempre bem definidos, pelos quais o quadrinho passa. Sim, esta é uma ótima obra sobre os efeitos da demência, mas é uma celebração do ato tão humano de compartilhar histórias, lembranças e momentos.
Orlandeli usa alguns elementos que são frequentes de suas obras como o narrador onisciente, sempre muito ativo; o humor tanto no texto quanto gráfico e a construção de personagens que são cativantes pelo visual caricato e pelas atitudes. A fluidez é outro destaque da HQ. Deslizamos pelas páginas, no balanço do mar, nas escolhas de enquadramentos e cores que favorecem a narrativa, de modo que a história passa voando, mas não se torna menos marcante por isso.
É difícil não se envolver com as páginas finais de “Mais uma história para o velho Smith”. O desenvolvimento é construído com tanto cuidado que, quando a história atinge seu ápice, sentimos uma emoção genuína. Emoção essa que foi o tempo todo nutrida, ao longo das páginas, como Orlandeli sabe tão bem fazer.