Mais Ninguém

9 novembro 2024

De R. Kikuo Johnson
104 páginas
HQueria | 2024
Tradução: Yonghui QioPan

Mais Ninguém chama atenção por trazer uma experiência quase documental que, apesar de ser uma leitura breve, consegue envolver o leitor de forma rara.

Escrito e ilustrado por R. Kikuo Johnson, a história é um drama familiar que explora as diferentes reações ao luto, enquanto os personagens buscam, cada um à sua maneira, o equilíbrio. Os protagonistas são três membros de uma família: Charlene, uma enfermeira que cuida de seu pai doente e de seu filho, Brandon; Robbie, irmão de Charlene e músico, que há muito tempo não visitava a família devido ao difícil relacionamento com o pai. A morte do idoso, em um acidente doméstico, dá início à narrativa que Johnson deseja contar.

Ao mesmo tempo em que precisam absorver a perda, ela representa um ponto de virada crucial para esses personagens. Johnson, por meio de flashbacks, revela as contradições e falhas do pai nos relacionamentos com os filhos. No entanto, apesar dessas falhas, ele funcionava como uma âncora invisível em suas vidas, e sua partida os deixa desorientados.

A abordagem do autor é íntima e direta. Mais Ninguém não precisa ser piegas. Não busca chocar com segredos ou reviravoltas, nem tenta compensar a simplicidade. É um quadrinho que atinge seu objetivo justamente por tratar seus personagens com a naturalidade das vidas reais. E é justamente por isso que emociona: porque sabemos que o que lemos ali tem infinitas semelhanças com o que acontece no cotidiano das pessoas.

A narrativa visual é um grande triunfo da obra. Os layouts das páginas abraçam as sequências silenciosas, que discretamente trazem evidências da dinâmica familiar. O estilo de traço remete ao de Adrian Tomine, e as cores desempenham um papel especial, sempre como um sinal narrativo em meio ao desenho.

Lançado pela HQueria, Mais Ninguém aborda a dor de maneira sutil e profunda. R. Kikuo Johnson opta por não explicar, evitando as conveniências do roteiro, e em vez disso escolhe mostrar — de forma silenciosa e delicada — as nuances emocionais que definem o sofrimento e a transformação após uma perda.

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