De Benjamin Flao
272 páginas
Nemo | 2024
Tradução: Fernando Scheibe e Bruno Ferreira Castro
Em Kililana Song, Benjamin Flao nos apresenta a Naim, uma criança de 11 anos, e a vários outros habitantes de Lamu, uma pequena cidade turística no Quênia. Essa é uma história autêntica sobre esse microcosmo, com uma narrativa visual deslumbrante, que nos traz uma visão do mundo, a partir da janela queniana.
Logo nas primeiras páginas, Kililana Song nos leva a viver o cotidiano da cidade, através dos olhos de Naim, nosso guia. Somos apresentados a diversas tramas, a muitos personagens e costumes. Tudo isso pode, sim, parecer complexo no início da leitura, mas, aos poucos, as histórias vão se entrelaçando. A cultura popular, a dinâmica exploratória neocolonialista e outras questões políticas e sociais daquele ambiente são temáticas desenvolvidas por meio das vidas daqueles personagens.
Flao demonstra um grande talento para escrever diálogos, com um destaque especial para Naim. A mistura de malícia e inocência do protagonista é muito verossímil. Aliás, em Kililana Song, os personagens cheiram a realidade. Bons ou maus, você se apega a todos eles. Um fato interessante é que a HQ é inspirada em pessoas reais, com quem o autor conviveu no período em que morou no Quênia.
No entanto, no segundo volume, também reunido neste integral, a dinâmica é alterada. A impressão que tivemos é que, com o distanciamento do protagonista – que segue em uma viagem inesperada com um ancião sábio – as tramas da cidade perdem aquele elo tão orgânico do início e o desfecho de alguns personagens se torna mais abrupto.
A arte de Flao é impecável. A fluidez do traço, marcado por cores fortes aquareladas, é essencial para a construção realista do universo apresentado. Outro destaque é a narrativa gráfica, que jamais parece engessada.
Kililana Song é um quadrinho que nos encantou logo no começo, quando conhecemos Naim. A força dos personagens é essencial para a dinâmica desta HQ, publicada pela Nemo. É impossível não se deixar levar pela beleza das páginas e pelo convite de percorrermos as ruas e as águas de Lamu.