Quando a autora de “Grama”, Keum Suk Gendry-Kim, revelou que seu próximo quadrinho se chamaria “Meu Amigo Kim Jong-Un”, o título por si só poderia ser uma posição sobre o conflito entre Coreias. Porém, a autora coreana alerta que não. Em um evento em Seul, em junho deste ano, Gendry-Kim fez um apelo para que os leitores não parassem na capa, porque sua mensagem é de paz.
O quadrinho, lançado no fim de junho na Coreia do Sul e que já tem previsão para chegar ao Brasil em setembro, pela Pipoca & Nanquim, é fruto de uma pesquisa que durou anos sobre a vida do presidente da Coreia do Norte, mas não é voltado apenas à sua biografia. A obra é descrita pela artista como uma maneira de expor como é viver em um país marcado por um estado de tensão, há décadas, embora nem todos se lembrem disso.
“Pensei em começar falando sobre o que vivencio e sinto no meu dia a dia como cidadã que vive num país dividido. Queria conhecer os desertores norte-coreanos, especialmente as mulheres, ouvir sobre suas vidas e contar suas histórias”, explica a quadrinista, em entrevista exclusiva ao Fora do Plástico.
Foi a partir dessas conversas com pessoas nascidas na Coreia do Norte que Keum-Suk Gendry-Kim organizou os capítulos da HQ. A autora conta que conseguiu esses contatos graças à ajuda de um especialista no país. Já as informações sobre o líder norte-coreano são famosas por serem muito difíceis de obter. “Mesmo quando me reuni com especialistas sobre a Coreia do Norte e Kim Jong-Un, não consegui ter 100% de certeza sobre datas, etc. No entanto, pude ouvir histórias sobre ele de especialistas norte-coreanos, repórteres e do ex-presidente sul-coreano Moon Jae-in, que conheceu Kim Jong-Un”.
Também são citados como fonte na sinopse da HQ alguns amigos estrangeiros, do período em que Kim viveu fora da Coreia do Norte, de onde viria a expressão que dá título à obra.
Busca pela imparcialidade
Tratar de um tema sensível como a questão coreana, principalmente como alguém que vive em um dos países, não é tarefa fácil. Antes mesmo da publicação do livro, Gendry-Kim já estava recebendo comentários ameaçadores de ambos os lados. “Não expressei nem julguei opiniões pessoais, como boas ou más, certas ou erradas, no livro. Simplesmente descrevi objetivamente as histórias da Coreia do Norte e de Kim Jong-Un contadas por especialistas e pessoas relacionadas com a Coreia do Norte”.
Mesmo com uma divisão tão nítida entre posições, ela conta que esse é o quadrinho pelo qual mais recebeu elogios. Aliás, “Meu Amigo Kim Jong-Un” é o fechamento de uma trilogia, explicou Keum Suk Gendry-Kim, que passou por diferentes momentos da Coreia.
Tudo começa com “Grama” e o tema das mulheres de conforto, com a história recente do Japão e a ocupação japonesa, sobretudo durante a Guerra do Pacífico. Depois, com “A Espera”, a quadrinista tratou da dor das famílias separadas pela guerra e pela divisão do país. Agora, voltando os olhos para a Coreia do Norte, seu propósito é falar do momento atual e, novamente, da urgência da paz.
Em dezembro, quando a autora virá ao Brasil para a CCXP, a editora Pipoca & Nanquim terá completado, portanto, a publicação da trilogia com “Meu Amigo Kim Jong Un”.