Jeremias: Estrela

16 novembro 2023

De Rafael Calça e Jefferson Costa
96 páginas
Panini Comics | 2023

Após Pele e Alma, duas das nossas Graphics MSP favoritas, Jeremias ganha uma nova história. Ou novas histórias. O personagem encontrou seu visual nos traços de Jefferson Costa e sua voz no texto de Rafael Calça, algo inquestionável. Agora, o menino também encontrará novos personagens e desafios, mas o fio condutor continua sendo uma abordagem honesta e sem rodeios sobre questões raciais.

Jeremias escreveu um livro e agora é a estrela do bairro, com direito a fila na sessão de autógrafos. Só que contar uma história não é o suficiente. Ele ainda está inquieto. Mas essa não é uma HQ sobre a inquietude de Jeremias, apenas. O roteiro direciona nossos olhos para outro personagem, Isac. Pouco mais velho que Jeremias e um tanto sisudo, o que se sabe sobre o jovem são os boatos e as notícias no jornal. Mas será que essa não é uma versão dos fatos moldada pelos olhos de uma sociedade contaminada pelo racismo?

Jeremias: Estrela é a graphic em que o personagem mais divide seu protagonismo. Se nos volumes anteriores a trama era completamente centrada em dilemas do próprio garoto (embora fossem questões sociais amplas), desta vez a dupla muda a dinâmica. A adição de Milena, é ótima, um dos pontos altos da trama. No entanto, mesmo que Isac seja um dos focos do quadrinho, gostaríamos de ver mais dele. O encaixe do plot do personagem com o tema da representação de pessoas pretas da mídia funciona bem, mas poderia ser mais desenvolvido. Algumas passagens, principalmente no final do álbum, chegam a parecer aceleradas, como se faltassem páginas para que o tema fosse um pouco mais aprofundado.

Isso não prejudica a qualidade da discussão, mas torna Jeremias: Estrela menos impactante do que Pele ou Alma, enquanto quadrinho. Por outro lado, a arte de Jefferson continua impressionante, assim como o uso das cores e o layout das páginas.

Jeremias: Estrela pode não ser impecável como os anteriores, mas ainda é uma leitura que equilibra muito bem discussões sociais enquanto usa como base os personagens da Turma da Mônica. Rafael Calça tem um dos textos com maior qualidade do selo e Jefferson Costa deixa tudo mais interessante com o seu traço solto e vibrante.

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