De Jefferson Costa e Rafael Calça
96 páginas
Panini Comics | 2020
Jeremias – Pele foi uma das grandes histórias do cenário nacional nos últimos anos, vencedora do prêmio Jabuti, em 2019, a Graphic MSP deu visibilidade a um personagem pouco lembrado da Turma da Mônica e abordou o racismo com uma sensibilidade única. Agora, Jefferson Costa e Rafael Calça repetem a dose em Jeremias – Alma. Com o mesmo cuidado e delicadeza do primeiro volume, os autores vão além na trama.
Voltamos à família de Jeremias, que está reformando um casarão centenário no bairro do Limoeiro, onde será sua nova morada. Enquanto isso, o amigo de Jeremias, Franjinha, viaja à Itália, país de seu tataravô. A partir desses fatos, começam a borbulhar questionamentos na cabeça do protagonista, que culminam em uma pergunta que marca a obra: “gente negra já fez alguma coisa importante?”
É com o aprendizado inocente da infância e a sabedoria dos mais velhos que Jefferson e Rafael contam nesta edição. Ao lado da avó, Jeremias descobre sobre suas origens, sua ancestralidade e também sobre o poder das histórias. O desenrolar da trama coloca o leitor para refletir sobre o apagamento da história e cultura negra e sobre o racismo estrutural, tudo costurado como uma bonita teia na narrativa, tanto verbal quanto visual. Com destaque, claro, para as composições, traços e cores de Jefferson Costa e também para as muitas referências.
Ao final da leitura, a “Alma” do subtítulo ganha dezenas de sentidos e toda a poesia e as reflexões da trama reverberam na cabeça do leitor. Foi assim com Pele, há dois anos. Jefferson e Rafael trouxeram vida a um Jeremias que possuía uma identidade um tanto anônima. E, com isso, nos apresentaram um jeito mais bonito de olhar para o passado, de refletir sobre o presente e de escrever histórias poderosas, que falam tanto, mesmo em poucas páginas. Já queremos outra dose.