Infiel

23 fevereiro 2023

De Pornsak Pichetshote, Aaron Campbell e José Villarubia
180 páginas
Pipoca & Nanquim | 2023
Tradução: Dandara Palankof

A pauta racial e a islamofobia não são pano de fundo em Infiel: são seu tema principal. Publicada pela Pipoca & Nanquim, a HQ de Pornsak Pichetshote e Aaron Campbell, com cores de José Villarubia, traz uma mescla bem sucedida entre um horror cru e questões latentes na sociedade norte-americana. Em uma clássica (porém nem tanto) história de casa mal assombrada, o medo vem principalmente do sobrenatural, mas há também uma face completamente humana.

Aisha é uma jovem muçulmana que acaba de se mudar, ao lado do marido e da enteada, para o apartamento da sogra, para dar suporte a ela, após um suposto atentado terrorista ter ocorrido no prédio. Desde a mudança, Aisha não dorme bem, assombrada por pesadelos que logo parecem se tornar reais. Figuras disformes a xingam e a ameaçam, e nem mesmo suas orações parecem afastar as criaturas. Apesar do medo, a jovem decide manter as aparições em segredo do marido ou de sua melhor amiga, Medina. Só que, como nos contos de terror, foi uma péssima ideia.

A ambientação de Infiel faz com que seja palpável a opressão sentida por Aisha. O sobrenatural e o real se fundem em uma obra que é assumidamente politizada. E este é o maior trunfo da HQ, conseguir que o horror não seja deixado de lado, em detrimento dos temas abordados. A mescla é muito bem-sucedida, assim como a decisão de dividir o protagonismo de Aisha com Medina, que possui uma personalidade bem distinta da amiga. Destaque também para a arte realista de Aaron Campbell que se sobressai nas cenas de horror gore.

Porém, mesmo com um bom desenvolvimento e uma tensão que cresce com o decorrer dos fatos, o quadrinho parece um pouco previsível em sua segunda metade. Pode não ser possível prever a sucessão de eventos, mas o desfecho e as motivações são anunciados. Isso não tira em nada o brilho da obra e seus méritos, mas torna a conclusão um tanto protocolar.

Logo na capa, Infiel já denota a que veio. A ideia de personificar o ódio nas criaturas que assombram o prédio é um dos elementos que fazem desta uma ótima HQ de terror. São muitas as cenas em que as viradas de página são como um jumpscare, ao passo que o texto entrega sua mensagem sem medo.

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