De Nicolas Pegon
200 páginas
HQueria | 2025
Tradução: Ana Clara Mattoso
Ao acordar, César se depara com um cachorro de olhar amigável, ao pé da cama. Como ele foi parar ali? Quem seria seu tutor? Esse é o pontapé inicial de Hound Dog, quadrinho de Nicolas Pegon que mistura uma estética noir e uma investigação nada convencional, em um Estados Unidos em franco declínio social e econômico.
O quadrinista prepara bem o cenário, afinal, a ambientação é parte essencial da trama. César é um homem de meia idade, que sente dores inexplicáveis e vive em uma casa imunda, que divide com o filho. A presença do cão, por mais dócil que ele seja, o inquieta a ponto de busca a ajuda de Alexandre, seu amigo cuja vida não parece muito melhor que a de César. Juntos, eles descobrem que o animal pertencia a um homem encontrado morto e as circunstâncias desse fato acentuam o tom policial da HQ. Pegon ainda insere doses de humor, o que gera cenas tragicômicas à lá irmãos Coen.
Hound Dog é instigante e nos coloca diante de um cenário que é igualmente interessante: o sonho americano não passa de um delírio, enquanto a realidade é cruel, desesperançosa. Ao mesmo tempo, o quadrinho parece um tanto morno em sua progressão, mesmo com decisões ousadas.
O visual abusa das sombras, dos olhares enigmáticos e até mesmo da falta deles, como é o caso dos óculos de César, sempre retratados como uma janela vazia. A escolha por tons sóbrios colabora para o clima sombrio e trágico.
Publicado pela HQueria, Hound Dog é uma leitura que desconstrói o noir clássico para apresentar um thriller existencial marcado pelo humor ácido e crítica social. É um quadrinho que se fortalece mais pelo estilo, pela atmosfera, do que pelo peso de seus personagens e suas ações.