Hitler de Shigeru Mizuki

19 outubro 2023

De Shigeru Mizuki
288 páginas
Devir | 2023
Tradução: Caio Suzuki

Hitler não é uma leitura fácil, a começar pelo biografado. O líder da Alemanha nazista está longe de ser uma nota de rodapé na História, por motivos que vão de megalomaníacos a abomináveis, e é isso que Shigeru Mizuki mostra neste mangá, recém lançado pela Devir.

O mangaká opta por ignorar os primeiros anos de Adolf Hitler, e inicia a história pouco antes de sua participação na Primeira Guerra Mundial, quando ainda queria ser artista. Mizuki concentra mais da metade da obra no processo que levou Hitler ao poder. Em diferentes ocasiões é possível ver elementos da personalidade do ditador que se tornaram marcantes, como sua eloquência, capaz de mover as massas.

Mas o que faria com que milhões de alemães se simpatizassem com um discurso abertamente xenofóbico, opressor a minorias, completamente irracional, como o do partido nazista? Não é exatamente isso que vamos compreender nesta biografia, mas, sim, o contexto político. São exploradas as alianças, rupturas e, em menor profundidade, a situação econômica e social do pós-Primeira Guerra. Isso torna o mangá absolutamente documental e minucioso, inclusive na narração. Em certos trechos, ele até parece acelerado, dada a quantidade de eventos e personagens mencionados em poucas páginas. Quando chega a Segunda Guerra Mundial, essa sensação se acentua. Os anos passam a galope e o conflito até perde um pouco o seu impacto humano, com um foco tão grande na geopolítica.

Uma das melhores decisões de Mizuki em Hitler é o uso do tom satírico, principalmente pela maneira caricatural como desenha as feições dos personagens. Já os cenários, como em outras HQs do mangaká, são realistas e imponentes.

Neste mangá até vemos um Adolf, além do Hitler figura histórica. Descobrimos mais sobre sua vida pessoal, mas a intenção era mesmo mostrar seu impacto político. Gostaríamos de ter visto mais sobre as questões sociais (como um todo) que envolveram o nazismo, e que são deixadas de lado, em detrimento do tom documental, que torna tudo mais distante. Dito isso, Hitler como mangá atinge seu objetivo. Mizuki faz escolhas de como contar essa história, algumas funcionam perfeitamente, outras nem tanto.

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