De Felipe Castilho e Monaramis
60 páginas
Independente | 2022
Em uma fábula sobre medos, riscos e gerações, Guarás – A Outra Margem constrói uma trama breve, mas muito significativa em suas metáforas. Protagonizada por uma família de lobos-guarás, uma mãe e seus dois filhotes, a HQ de Felipe Castilho e Monaramis impressiona não somente pelo visual, mas pelas escolhas do texto. Econômicos os balões e recordatórios falam apenas o necessário, mas provocam o leitor na condução da história.
Pytuna e Estrela crescem protegidos por sua mãe, uma loba carinhosa que os orienta para sobreviver no cerrado e se afastar do mundo dos homens. Entre mitologia própria e falas que remetem ao período da colonização, com a chegada dos europeus, as histórias da mãe são alertas para o perigo e para a necessidade de cautela com o desconhecido. Principalmente se esse desconhecido tiver suas patas.
Eis que Guarás apresenta uma ruptura nessas crenças. Uma necessidade de romper com tradições. E, mesmo que estejamos falando de uma história sobre lobos-guarás, com características e padrões de comportamento próprios da espécie, há uma amplitude no enredo, é necessário que leiamos as entrelinhas.
Em uma HQ que flerta com os sonhos, a arte onírica e muito fluida de Monaramis não poderia ser mais efetiva. As páginas muitas vezes se transformam em painéis lindíssimos, que convidam o leitor a prestar atenção em seus detalhes, para que não se perca na história.
Guarás – A Outra Margem consegue explorar, em poucas páginas, uma história que nos preenche e usa diferentes recursos para nos conectarmos a ela. Essa conexão pode vir pela arte lindíssima, por algumas frases do roteiro, pela escolha do lobo-guará como personagem central da trama. Um quadrinho poético, que merece ser conhecido.