[Especial]

Glénat lança HQs de bolso: preço baixo se torna tendência na busca por público

30 abril 2024
Por Fora do Plástico

No fim do ano passado a DC anunciou a Compact Comics, uma linha inicialmente composta por 10 quadrinhos em um formato que se assemelha ao de vários mangás, ao preço de 9,90 dólares. Nesta coleção, que começa a ser publicada em junho nos EUA, estão quadrinhos como “Watchmen”, “Grandes Astros Superman” e “Vampiro Americano”.

Não muito tempo depois, a Panini Espanha fez uma reestruturação nas publicações da editora, chamada de Back To Basics. A ideia é diminuir a frequência das publicações de luxo e apostar mais em formatos acessíveis, com a criação de uma linha de HQs a 10 euros. Na Espanha, a Panini detém a licença da Marvel, já a DC é publicada pela ECC Ediciones. Há alguns anos, a editora já tinha criado uma coleção de quadrinhos menores e mais baratos, a DC Pocket, que é citada como uma das possíveis inspirações para a coleção Compact Comics da DC nos EUA.

Agora chegou a vez de uma gigante dos quadrinhos franceses anunciar sua linha de bolso: a Glénat. A editora vai publicar sete títulos que já compõem seu catálogo e também da Vents d’Ouest outra editora que faz parte da Glénat ao preço único de 10 euros. Entre as obras anunciadas, está a adaptação de “Moby Dick” por Chabouté, publicada no Brasil pela Pipoca & Nanquim. Em comunicado à imprensa, a Glénat diz que a cultura não deve ser para poucos, por isso, essa coleção tem o objetivo de tornar os quadrinhos mais acessíveis ao público leitor jovem e adulto.

Ela não é a primeira na França, outras editoras já adotam o formato, de uns anos para cá. A primeira foi a Casterman, em 2018. Depois, em 2022, Dargaud, Futuropolis Urban (que publica DC, na França) criaram coleções de quadrinhos de bolso.

Imagem: Laurence Houot – France Info Culture


Por que apostar em linhas acessíveis?

Entre os fatores que as editoras citam como motivação para a criação de coleções de bolso é a proximidade de preço e formato com os mangás, hoje muito mais populares entre os adolescentes. Outro ponto citado é o fato de esses quadrinhos poderem ocupar outros espaços de venda, como bancas de livros dentro de supermercados, além da praticidade de se carregar edições mais leves e menores pra ler em qualquer lugar.

O que mais preocupa leitores quando se fala em formato de bolso é a adaptação. Como ficam essas páginas? Em reportagem da France Info, as editoras francesas concordam que é essencial manter a qualidade, por isso a redução das páginas é feita proporcionalmente, usando como base a prancha original. Quando um quadrinho não funciona bem na redução, ele pode deixar de ser considerado para o formato bolso. À revista Livres Hebdo, o editor da Casterman, Vincent Petit, disse que alguns autores chegam a fazer ajustes no original para que tudo se adeque às novas dimensões.

Os álbuns de bolso da Futuropolis e Dargaud mantêm as cores, o papel de boa qualidade e a capa original, enquanto na Casterman as capas são coloridas e o miolo é em preto e branco, impresso em papel reciclado. E, claro, são quadrinhos cuja a edição tradicional se mantém em catálogo, em formato maior. Públicos diferentes são atendidos.

E no Brasil?

É difícil comparar a viabilidade de projetos como as coleções de bolso em países como a França e o Brasil. É preciso considerar que grande parte das editoras francesas se beneficiam do Passe Cultural, um programa do governo que, desde 2021, destina 300 euros para jovens, assim que completam 18 anos. Esse valor deve ser investido obrigatoriamente em programação cultural ou aquisição de bens culturais, onde se enquadram os livros. Naquele ano, o país viu um boom nas vendas de mangás em consequência da implementação do passe cultural. É para atrair esse público que as editoras apostam no formato bolso.

Foto: Andrea Mantovani – The New York Times

Hábitos de leitura, poder de compra e custos gráficos e operacionais distinguem a realidade brasileira da francesa. No entanto, nos dois países os quadrinhos são considerados um hobby caro. Iniciativas de popularização dos preços podem ser encontradas em menor escala por aqui, mas já são um começo importante na busca pela democratização da leitura.

A coleção HQ Para Todos, da Conrad, que publica quadrinhos entre R$9,90 (miolo preto e branco) e R$14,90 (miolo em cores) encabeça essa missão. Os Ugritos, da Ugra Press, que já estão na 34ª edição também são uma alternativa para conhecer novos autores ao preço de R$8,00. A gibiteria Reboot, em Fortaleza, tem um projeto semelhante: a coleção Estalos, com quadrinhos a R$10,00. Já a editora Ultimato do Bacon criou a revista Escafandro, que a cada edição apresenta histórias fechadas, com preço médio de R$22,00. O que todos esses projetos têm em comum é o foco no quadrinho nacional. À exceção da Conrad, que trouxe algumas obras estrangeiras como parte do HQ Para Todos, os demais projetos são exclusivamente dedicados a publicar autores brasileiros.

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