Frank Miller, autor de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Sin City”, “300”, e de histórias clássicas do Demolidor, abriu o jogo sobre sua saúde em uma entrevista exclusiva à Vanity Fair, publicada na sexta-feira (7). A entrevista usa como gancho o documentário “Frank Miller American Genius” que explora quase meio século de carreira de Miller, dirigido por Silenn Thomas, colaboradora de longa data do quadrinista.
Por volta de 2014, fãs de quadrinhos perceberam uma mudança repentina na aparência de Miller. De repente, ele parecia mais velho e debilitado para sua idade, 57 anos na época. “Miller tem parecido horrível ultimamente. Me faz pensar que ele está com algum tipo de doença terminal. Em 7 anos ele foi de saudável a muito doente, quase cadavérico”, diz um comentário retirado do Reddit pela Vanity Fair.
Em geral, o que circulavam eram especulações de que ele poderia estar doente, porque essa parte de sua vida sempre foi mantida privada, até o momento desta entrevista, quando Frank Miller contou publicamente como o alcoolismo quase o matou.
A revista conversou com o quadrinista ao lado de Silenn Thomas, a quem Miller credita sua recuperação. Os dois se conheceram quando ela trabalhou como produtora na adaptação cinematográfica de “300” e, desde então, colaboraram juntos em várias outras produções. Por estar sempre próxima ao artista, Silenn conta à Vanity Fair que percebeu o declínio de sua saúde, até um ponto preocupante. Foi quando, em 2015, ela decidiu pôr em prática uma intervenção e chamar a família de Miller, especificamente dois irmãos dele.
O quadrinista revela que ele não começou a beber logo cedo, porque não tinha condições financeiras. Porém, o peso do sucesso de suas obras contribuiu para que se entregasse cada vez mais à bebida, além de creditar uma predisposição genética tanto do lado materno quanto do lado paterno de sua família. “O álcool foi uma forma de desinibir e mergulhar em minha própria psique e trazer à tona todos os tipos de monstros, mundos, anjos e demônios. Quando isso acontecia, parecia que tudo estava ótimo. Tudo estava funcionando. Eu estava ganhando todos os prêmios que minha área tinha a oferecer. Eu estava recebendo todas essas propostas de filmes e assim por diante. O que eu não percebi é que estava patinando cada vez mais rápido em gelo cada vez mais fino”, afirma Miller na entrevista. Em suas palavras, ele estava “no fundo do poço” quando foi resgatado, na intervenção organizada pela Sillen.
Apesar das mudanças em seu corpo, o envelhecimento progressivo que assustou os fãs, o artista não conseguia notar o que estava acontecendo consigo. “Uma das coisas de estar bêbado, por assim dizer, é que você se torna surpreendentemente inconsciente de si mesmo”, revela. Silenn completa que tudo aconteceu muito rápido, como se o corpo de Miller tentasse “expressar isso [o excesso de álcool] externamente antes que fosse tarde demais”.
No período de recuperação, veio o choque: Frank Miller não conseguia desenhar nada sem estar alcoolizado. Ele diz ter ficado um bom tempo produzindo pouco, até conseguir se recuperar. Nesse processo, permitiu-se desacelerar.
Hoje, Miller está sóbrio há quase 8 anos e em atividade. Na mesma entrevista, ele revelou que está trabalhando em um novo volume de Sin City, com uma ambientação ao estilo Velho Oeste, no período em que a cidade foi fundada. Enquanto isso, a dupla Sillen e Miller promove o documentário “American Genius”, que não tem previsão de lançamento no Brasil.