De Bef
150 páginas
Skript | 2020
Tradução: Jotapê Martins
Com sensibilidade e cuidado, o mexicano Bef trouxe ao mundo Fala, Maria, lançamento da editora Skript. Autobiográfica, a trama não demora a fisgar o leitor e mescla atributos opostos: Fala, Maria é pesada e intensa, ao mesmo tempo em que é leve e delicada. Logo nas primeiras páginas da HQ sabemos a temática central da obra: Maria, a filha mais velha do autor, é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Bef é didático ao explicar o que levou à descoberta da condição da pequena. Alguns dos principais sinais do espectro são apresentados e passamos a entender melhor como ele afeta o núcleo familiar do artista. Há aqui uma sinceridade que nos lembra a de Fabien Toulmé, em Não Era Você Que Eu Esperava. O quadrinista demonstra não só sua preocupação com o futuro de Maria, mas também sentimentos mais amargos, como a inveja.
Para leitores que são pais ou mães, a HQ pode ser especialmente tocante. Em alguns momentos, sentimos que Bef se apressa um pouco com as soluções ou se alonga demais em outros pensamentos. Nada que afete a obra como um todo, claro. Um acerto é o uso do traço cartunesco e de algumas alegorias ao longo da HQ. As cores, em uma paleta fria, com dominância do azul, remetem ao tom símbolo do TEA.
Fala, Maria é uma bela aposta da Skript, trazer uma trama tão íntima de Bef é uma boa forma de apresentá-los aos brasileiros, e ainda abordando um tema que é absolutamente importante.