De Ana Penyas
112 páginas
Palavras | 2022
Tradução: Ivã Martin
Ana Penyas poderia escolher várias formas para contar a história de suas avós, em Estamos Todas Bem. Escolheu um caminho que mescla o presente com o passado, criando paralelos de forma praticamente experimental. Hermínia e Maruja são mulheres distintas entre si, mas que compartilham a geração. Foram filhas, esposas e mães na mesma Espanha.
Na velhice ou na juventude, a representação dessas duas personagens da vida real é muito significativa. É evidente que Penyas quer mostrar como a vida de suas avós foi muito pouco delas mesmas, mas não resume o relato ao contexto patriarcal em que ele é inserido. A autora também quer que o leitor conheça Hermínia e Maruja através da maneira como se expressam, das suas manias e comportamentos do presente e do passado.
Enquanto uma teve muitos filhos, a outra teve apenas um. Uma teve um casamento frio e distante, a outra nem tanto. As duas cuidaram da casa e das suas responsabilidades de mãe e esposa. E, no fim, as duas ficaram sozinhas nessas respectivas casas, quando esses respectivos filhos cresceram e elas se tornaram viúvas. Estamos Todas Bem é carregado de paralelos e faz isso muito bem, até de forma desavisada, quando mistura os tempos. O presente, marcado pela pela solidão, às vezes é invadido por um texto do passado, quando a casa era cheia e os afazeres eram muitos.
Sua proposta não é traçar uma biografia completa ou apresentar as avós em uma linearidade impecável. É muito mais como um ensaio, sem uma estrutura tão sólida, em que o contexto, as cenas e os diálogos se fundem na construção da imagem dessas duas mulheres.
A arte colabora para esse efeito, criando, quadro a quadro, elementos que as referenciam. Penyas usa também a cor para criar uma distinção: vermelho para Maruja, laranja para Hermínia. Seu traço é marcante, com personalidade, brincando com formas mais caricatas e às vezes até realistas.
Lançado pela editora Palavras, Estamos Todas Bem é carismático, fluido e sincero. Uma homenagem belíssima àquelas que tiveram muito pouco espaço para pensar em si mesmas. É como uma pausa para o café, ouvindo histórias contadas por uma avó que já não se lembra muito bem da ordem das coisas.