De Alexandre Callari e Robson Moura
132 páginas
Pipoca & Nanquim | 2023
Em Espelho Meu, Alexandre Callari volta ao horror, em uma trama que constrói passo a passo seu desfecho intenso. Laura Brondi não é uma protagonista amável, muito pelo contrário, é possível que o leitor a deteste. Mas ele estará ao lado dessa atriz em decadência ao longo das mais de 120 páginas desenhadas por Robson Moura.
Laura um dia foi protagonista de novela das oito, viveu seu auge. Agora, quando a meia idade se aproxima, ela já não consegue os melhores papéis e enfrenta um divórcio de forma caótica. Extrema, debochada e cheia de vaidades, a personagem começa a perceber seu envelhecimento em pequenas situações, como a repulsa aos hábitos das novas gerações nas redes sociais. Laura sente que juventude é sinal de oportunidades no meio artístico.
Em meio a “nãos” em testes e gravações de comerciais que considera patéticos, Laura passa por um antiquário e compra um espelho para simbolizar um recomeço. Porém, como a própria capa já denuncia, não seria bem assim. Callari não tem pressa para incluir o terror na história e até se alonga demais em algumas cenas que parecem retóricas. Mas quando a trama atinge seu ápice, Espelho Meu abraça o que nasceu para ser. Desde que o espelho surge na história, é um pouco previsível o que pode acontecer, mas o roteiro consegue ainda reservar algumas surpresas.
Robson Moura capricha no preto e branco e parece “crescer” nos pincéis com o avançar da história, com ótimos momentos ao final. No entanto, as feições de algumas personagens femininas são muito semelhantes e isso se torna um problema, quando temos várias delas em uma mesma cena.
Publicado pela Pipoca & Nanquim, Espelho Meu é um terror feito da realidade. Um caldeirão de medos e pressões que transborda, onde a linha entre o real e o delírio não é mais visível.