De Héctor Oesterheld e Hugo Pratt
360 páginas
Figura | 2020
Tradução: Ernani Ssó
Ernie Pike pode ser perfeitamente descrito logo em sua quarta capa: aqui não há bons ou maus, mas há um supervilão: a guerra. Sem dúvidas, é isso que Héctor Oesterheld e Hugo Pratt transmitem nas mais de 300 páginas da HQ, traduzidas em mais de 30 histórias sobre a Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia e a Guerra Sino-japonesa. Narrados pelo repórter que dá nome à obra, cada um desses relatos traz a intensidade dos conflitos para perto de nós.
De jovens soldados a oficiais experientes, de americanos a alemães e japoneses, Pike aborda como a guerra na verdade não é travada apenas pelos homens que lutam diretamente nos campos. Em diversas passagens, o Oesterheld humaniza os combatentes (até mesmo os alemães), que apesar dos horrores dos combates, traziam consigo memórias de casa, das famílias. Cada um deles é mais do que um soldado, eles são filhos, maridos, pais, irmãos… Eles são homens que não têm, pessoalmente, motivos para se matar, como pontua Juan Sasturain no ótimo posfácio desta edição.
Ernie Pike é sobre os conflitos externos e internos dos soldados, sobre aquilo que a guerra silencia naqueles que precisam se endurecer para combatê-la. É por isso que essas histórias marcam o leitor individualmente. Algumas são intensas, amargas, outras, como para trazer um equilíbrio, conseguem até aliviar a tensão de quem lê (mesmo que com um gosto agridoce). O quadrinho também é carregado de texto, com quadros com diálogos e recordatórios longos. Porém, cada uma dessas linhas é essencial para se situar nas descrições precisas de Oesterheld, que brilham ainda mais na arte incrível de Pratt.
A arte do italiano é precisa nas expressões e traz cenários diversos como as florestas birmanesas, os arrozais chineses ou os campos da França. O contraste entre preto e branco transporta o leitor para as cenas de ação, que muitas vezes dominam as histórias.
Resgatado pela editora Figura, Ernie Pike está entre os grandes lançamentos de 2020, com tramas que originalmente foram publicadas há 60 anos e que seguem dialogando conosco. Um compilado que nos relembra que nas guerras não há vencedores.