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Luís Moreira Gonçalves e Felipe Parucci
320 páginas
Comix Zone | 2025
Dormindo Entre Cadáveres resgata as memórias de um tempo que pode parecer um borrão na história recente, um limbo. A pandemia de COVID-19 deixou mais de 700 mil mortos no país, enquanto as vacinas eram negligenciadas pelo próprio governo e o negacionismo institucionalizado. Diante de um cenário tão avassalador, as memórias do médico português Luís Moreira Gonçalves, na HQ Dormindo Entre Cadáveres, parecem um flashback necessário desse filme de terror que vivemos entre 2020 e 2021.
Testemunha da crise sanitária, Luís encontrou no traço do quadrinista Felipe Parucci o veículo perfeito para relatar o que viveu enquanto atuava como médico, em um hospital de campanha de Rondônia. Professor da USP, o português viajou ao estado da região norte após receber um e-mail que reforçava a urgência por médicos. Após anos dedicados à academia, ele se viu sem experiência clínica, em uma UTI lotada.
O quadrinho retrata os bastidores que nós, leigos, apenas ouvimos falar. O desespero, o descaso das autoridades, o empenho exaustivo das equipes de saúde. Além de contar seus passos e apresentar o cotidiano no local, Luís relembra seus sonhos, ou melhor, seus pesadelos, com um inconsciente mergulhado em constante estado de assombro.
O visual solto, cheio de movimento, de Felipe Parucci é fundamental para a HQ. Seu estilo é intenso e expressivo, como a obra pede. O traço cartunesco, os olhos saltados, tudo faz parte de uma composição que evidencia o peso do momento.
Publicado pela Comix Zone, Dormindo Entre Cadáveres é uma das obras mais importantes da história recente do quadrinho brasileiro, por sua missão de memória. Além da ótima execução, o quadrinho é crucial para que esse período não seja esquecido. Dormindo Entre Cadáveres não despertará os sentimentos mais nobres: é uma leitura que provoca raiva, desconforto, impotência… Mas todas essas reações são necessárias para manter viva a lembrança do que não pode se repetir.
