De Chloé Cruchaudet
192 páginas
Nemo | 2020
Tradução: Renata Silveira
Degenerado é uma leitura que nos atingiu em cheio. Sabíamos o que nos aguardava, mas a intensidade da HQ baseada em fatos, de Chloé Cruchaudet, ainda assim nos surpreendeu. Logo nas primeiras páginas, já acompanhamos a paixão de Paul e Louise na Paris do início do século XX. Porém, logo após o casamento, Paul vai para as trincheiras da 1ª Guerra Mundial, um ambiente dominado pelo caos. Atormentado, ele se torna um desertor. E acobertado por Louise, Paul percebe que se adotasse uma identidade feminina ele poderia retomar sua vida, sem ser reconhecido (e punido) como desertor. É assim que “nasce” Suzanne.
A relação entre Louise e Paul é, sem dúvidas, o centro do quadrinho. Mas Degenerado é repleto de camadas. Cruchaudet conduz a trama de uma maneira que faz o leitor pensar nas diversas questões latentes naquela história: os traumas de guerra, as relações amorosas no início do século passado, os relacionamentos abusivos (que não são exclusivos de outros tempos). Além disso, há a questão identitária. O que leva um homem machista como Paul a ter em si também a feminilidade de Suzanne?
Toda a trama ainda é coroada pela arte marcante da autora, que consegue transmitir o clima sombrio da guerra (com uma paleta acinzentada) e ainda as faces dos Loucos Anos 20. Assim como a feminilidade e volúpia, com um vermelho marcante, que ao mesmo tempo simboliza o temperamento de Paul.
Lançada pela editora Nemo, sem dúvidas, Degenerado é uma HQ intensa, que leva um tempo para ser digerida. É difícil terminar a leitura sem ficar com os muitos aspectos dessa história rodeando nossos pensamentos. Por isso, consideramos um dos quadrinhos indispensáveis de 2020. Belíssimo trabalho de Chloé Cruchaudet.