De Inio Asano
256 páginas
JBC | 2023
Tradução: Caio Pacheco
A indústria de mangás é vista a partir de um olhar desesperançoso e realista, em Decadência, de Inio Asano. Porém, mais do que um exercício metalinguístico de análise da relação entre um mangaká, a sua obra e todos os fatores envolvidos, o lançamento da JBC traz uma densa construção de personagem, com nuances autobiográficas.
Vindo de Inio Asano, é inevitável esperar algo melancólico. Ele corresponde às expectativas ao apresentar Kaoru Fukazawa, um mangaká que lançou por ano uma série de sucesso, mas não consegue elaborar um novo projeto. Pessimista, ele não admira as produções de nenhum contemporâneo e não vê muito futuro na tendência cada vez mais comercial dos mangás de sucesso com o público. Todo o dilema profissional também afeta seu casamento, já que tanto ele quanto sua esposa, uma editora, estiveram tão focados no trabalho que perderam sua conexão. Assim, o protagonista parece encontrar conforto emocional (e sexual) ao lado de acompanhantes, sempre jovens quase 20 anos mais novas do que ele.
Fukazawa é um personagem por quem é difícil ter empatia. Esse sentimento de afastamento entre leitor e personagem vai se intensificando à medida que a trama avança. Cada vez mais, parece que estamos diante de uma pessoa que pouco se importa com como seu comportamento irá afetar os outros… Porém, em profundo sofrimento, mesmo que silencioso.
Decadência percorre, com excelência, o fato de desconhecemos pessoalmente os criadores que muitas vezes admiramos. Um mangá que salva uma vida pode ter sido criado por alguém desiludido? É possível viver de quadrinhos sem ceder aos dogmas de uma indústria que prioriza as vendas acima de tudo? São apenas algumas das perguntas que ecoam durante a leitura.
Mergulhados na arte sempre encantadora de Asano, nos questionamos sobre o quanto conhecemos aquilo que consumimos. Não um conhecimento técnico, mas aquele que envolve as relações de trabalho, os números, a indústria por trás do mangá que chega às nossas mãos.
A sensação após a leitura de Decadência é quase letárgica. Inevitável absorver a melancolia, depois de encararmos de frente a desesperança, a vulnerabilidade. Seria um manifesto de Inio Asano?