De Patrick Martins e Igor Frederico
160 páginas
Mmarte | 2024
Um noir brasileiro que nos deixa vidrados, desde o princípio, De Lá Não Se Via Luz é mais um fruto da parceria entre Patrick Martins e Igor Frederico. Os autores de Dente de Leite entregam, novamente, uma história instigante, repleta de referências e de mistério. Porém, desta vez elementos canônicos do gênero policial dominam a trama, que tem como ponto de partida o desaparecimento de Helena, prestes a se mudar com o marido da ilha onde vivem.
A investigação é conduzida por Ruy, um policial com uma personalidade difícil de destrinchar, enquanto, as suspeitas de Matheus, marido de Helena, recaem sob Mefibo, o filho adotivo de um pastor. À medida que novos personagens são apresentados e núcleos se encontram, é possível perceber que o desaparecimento é apenas um dos ingredientes para o suspense criado e a ambientação em uma ilha só reforça o quanto essas vidas estão interconectadas.
É notável como o quebra cabeça começa a se encaixar aos poucos, mas a história ainda nos reserva surpresas até o final. Com os indícios deixados, viramos nós mesmos agentes da investigação, por isso é preciso ter atenção aos detalhes. Estamos longe de personagens honrosos, a ambiguidade moral domina aqui, como bem ressalta Ciro Inácio Marcondes em seu prefácio.
A arte de Igor Frederico é parte do que torna essa HQ um suspense bem ritmado, com cenas marcantes na composição e na iluminação. Nas referências há desde o cinema italiano aos gibis de Dylan Dog. Ainda assim, há personalidade, algo que o artista já mostrava no trabalho anterior da dupla. Destaque também para a aplicação das onomatopeias na arte, potencializando seu efeito.
De Lá Não Se Via Luz é ousado e ao mesmo tempo se mantém rente aos clássicos do gênero. Publicado pela MMarte, a HQ consegue o feito de fazer o clichê “nada é o que parece” soar perfeitamente encaixado a uma história que sabe onde quer chegar e que conduz o leitor por um labirinto de revelações, mantendo a tensão até a última página.