De Fábio Vermelho
166 páginas
Independente | 2024
Damnata: Condenados pelo Diabo é um começo promissor para o que parece ser o projeto mais ambicioso de Fábio Vermelho. A história de horror, com elementos de erotismo e suspense, traz neste primeiro volume a receita perfeita para deixar o leitor com vontade de mais. Seja pela narrativa, que se expande a cada página sem nunca dissipar o mistério, ou pela arte expressiva que colabora para criar a tensão que domina o quadrinho.
Se Fábio Vermelho fosse um quadrinista estrangeiro, publicado pela Fantagraphics, seria celebrado como um talento indispensável do underground. Mesmo sendo ainda desconhecido para alguns, seu trabalho está entre o melhor da produção brasileira, não só por sua consistência, mas também pela identidade marcante. Damnata não é diferente. Ambientada na década de 1960, a HQ traz um convento na cidade de Pequenópolis que abriga uma jovem e sua avó, em meio a uma chuva torrencial. As freiras (e os leitores) não fazem ideia de como abrir as portas para as duas será um evento definidor para o futuro de todos.
A sucessão de eventos é deliciosamente perturbadora, a ponto de nos questionarmos o que resta para as edições que se seguirão. Fábio Vermelho consegue, além de promover avanços na trama, desenvolver as histórias de seus personagens. Ao mesmo tempo que se apropria da mitologia cristã — sobretudo em sua estética— o quadrinista injeta um toque de brasilidade. É um terror genuinamente brasileiro, com as contribuições que nossa identidade cultural pode oferecer.
A arte é sempre detalhada nas expressões, com hachuras que definem as formas do rosto e que também o deformam. O cuidado do autor com a iluminação é outro ponto de destaque da obra. O contraste entre luz e sombra nos ambientes do convento intensifica a imersão do leitor e fortalece o suspense.
Lançado de forma independente, Damnata é apenas o começo. Um começo mais que convidativo, que nos prende às páginas densamente preto e brancas do quadrinho e nos assombra. O que pode vir a seguir? Da mente de Fábio Vermelho, só sabemos que será impossível desviar o olhar.