De Robert Morales e Kyle Baker
168 páginas
Panini Comics | 2021
Tradução: Maurício Muniz
Robert Morales não cria uma obra perfeita em Capitão América: A Verdade, mas ele certamente balança os leitores com uma história poderosa que dialoga com a realidade. Confrontando a própria história norte-americana, falando de racismo estrutural e o tratamento dado pelo governo aos soldados negros durante a Segunda Guerra Mundial, esta HQ nos apresenta a cruel história do primeiro Capitão América negro, Isaiah Bradley.
Na trama, durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Americano selecionou centenas de soldados negros para servirem de cobaia em testes do soro do supersoldado, como uma forma de “aperfeiçoar” o soro que viria ser usado por Steve Rogers mais tarde. É preciso destacar que os soldados não tinham opção, ou aceitavam ou morriam. E mais, aceitar não queria dizer que iriam sobreviver ao teste. A maioria dos soldados morreu nos experimentos ou, com o passar do tempo, por conta dos efeitos.
Por fim, um pequeno grupo sobrevive e ganha a tal esperada superforça. Agora, Isaiah Bradley e seus companheiros são enviados para missões secretas. O tom da história é pesado e deixa o leitor inquieto. As críticas são diretas e a forma como o autor entrelaça as histórias de Steve Rogers e Isaiah Bradley é inventiva. O quadrinho tem ótimo início, um final comovente, mas perde um pouco de sua força no desenvolvimento.
A arte de Kyle Baker é o ponto mais discutível na obra. Sinceramente, o seu estilo, que contrasta tanto com o clima da HQ, não nos incomodou. Porém, compreendemos quem acredita que é um desenho que destoa da narrativa.
O que leva a história a outro patamar é o final. Páginas comoventes e impactantes que nos fazem questionar por que essa obra demorou tanto tempo pra ser publicada no Brasil. Publicada originalmente em 2003, Capitão América: A Verdade é uma HQ que foge do lugar comum nos quadrinhos de heróis, com uma trama triste e realista, escancarando como a América trata os negros ao longo da história.