De Keito Gaku
Série completa: 784 páginas (Vol.1 224 páginas; Vol.2 176 páginas; Vol.3 176 páginas e; Vol.4 208 páginas)
JBC | 2022 – 2023
Tradução: Lucas Libaneo
Ryo sente que não pode se abrir para ninguém. Contar como gostaria de ser tratado. Como gostaria de ser visto. A relação desse garoto transgênero consigo mesmo e com o mundo ao seu redor está no centro de Boys Run The Riot, mangá completo em quatro volumes, escrito e desenhado pelo autor trans Keito Gaku. Mas essa é também uma história sobre moda, amizade, autoafirmação e como essas três coisas podem caminhar juntas.
O protagonista percebe que não está tão sozinho assim quando conhece Jin, um rapaz da mesma sala que ele, que aparentemente é a personificação do que é ser cool. Eles compartilham o gosto por roupas alternativas e acabam descobrindo que essa não era a única coisa que os une. Dali, surge uma amizade e uma parceria: uma marca de roupas autorais, feitas a partir dos grafitis que Ryo faz para extravasar.
Boys Run The Riot tem um primeiro volume impressionante. O sentimento de frustração de Ryo, consigo e com o seu entorno, é muito bem representado. Ao mesmo tempo, é possível sentir o frescor e até mesmo a ingenuidade adolescente na parceria formada entre os dois rapazes, afinal a obra nunca perde seu tom quase juvenil.
O desenvolvimento traz dinamismo ao mangá, adicionando subtramas e novos conflitos envolvendo duas frentes da trama: a moda e os desafios de Ryo enquanto pessoa trans. Porém, o quarto e último volume se torna um tanto apressado e acaba por deixar em aberto algumas questões que poderiam ter sido solucionadas, com uma ou duas edições a mais. Não é um final amargo, de forma alguma. É aquém do ótimo começo, mas recompensador da caminhada.
A arte de Gaku foca a expressão no olhar e é bem limpa e elegante, mas traz alguns problemas de ritmo. Quase como uma desorientação na passagem do tempo, principalmente em algumas viradas de página.
Para Ryo, se vestir é se projetar para o mundo, mostrar seu verdadeiro eu. É assim que Boys Run The Riot explora a moda como maneira de expressão, ao mesmo tempo que lida com as lutas internas e externas de um garoto trans. Publicada pela JBC, essa é uma leitura que reflete problemas reais, mas tem uma positividade contagiante, ao final.