Em entrevista ao portal japonês Oricon News, o diretor sul-coreano Bong Joon-ho revelou que seu novo filme, “Mickey 17”, recebeu grande influência das obras de Hayao Miyazaki. Segundo Bong, a maneira como o cineasta japonês retrata a natureza em suas animações serviu como uma das principais fontes de inspiração.
Lançado nos cinemas brasileiros no início de março e ainda em cartaz, “Mickey 17” é uma ficção científica baseada no livro (batizado de “Mickey7”, não 17) de Edward Ashton. Na história, Mickey Barnes (Robert Pattinson) é enviado em uma missão suicida para colonizar o planeta gelado de Niflheim. Como parte de um grupo descartável, cada integrante é designado a tarefas perigosas e, quando morre, suas memórias são transferidas para um novo corpo, um clone que continua a missão sem interrupções. Durante uma de suas incursões, Mickey é capturado por uma criatura misteriosa conhecida pelos humanos como Creeper.

E essa estranha criatura é um dos elementos que conectam as obras dos dois diretores. Segundo Bong Joon-ho, a concepção dos Creeper foi diretamente influenciada pelos Ohmu, de “Nausicaä do Vale do Vento”. O diretor sul-coreano destaca que tanto o design quanto o comportamento dessas criaturas refletem essa inspiração. Além disso, ele revela que outra criação de Miyazaki também impactou seu mais recente filme: o Catbus, o icônico ônibus-gato de “Meu Amigo Totoro”, serviu de referência para os movimentos da criatura.
Um artigo do Collider explorou as diversas conexões entre o filme de Bong Joon-ho e o longa animado de Hayao Miyazaki, destacando as semelhanças entre os Creeper e os Ohmu como um elo entre as duas narrativas. Para o portal canadense, tanto “Nausicaä” quanto “Mickey 17” trabalham em torno da contradição entre exploração versus coexistência.

Nascido em Daegu, na Coreia do Sul, Bong Joon-ho é diretor, produtor e roteirista. Iniciou sua carreira de cineasta ainda na década de 1990 dirigindo curtas-metragens e escreveu diversos filmes nos anos 2000. Foi em 2019, no entanto, que Bong Joon-ho ganhou notoriedade com seu trabalho de direção em “Parasita”, obra que conquistou o Oscar de Melhor Filme, em 2020 (feito até então inédito para uma produção não-americana). Na mesma cerimônia, Bong Joon-ho levou o prêmio de Melhor Diretor numa disputa contra Martin Scorsese e Quentin Tarantino.
Hayao Miyazaki é um dos mais célebres animadores japoneses. Nascido em Tóquio, fundou o Estúdio Ghibli em 1985, ao lado de Isao Takahata e Toshio Suzuki, após mais de uma década de trabalho nos estúdios Toei e Nippon Animation. Venceu o Oscar de Melhor Animação em duas ocasiões: por “A Viagem de Chihiro”, em 2003, e por “O Menino e a Garça”, em 2024 – as duas únicas vitórias do Japão na categoria.
Miyazaki começou a escrever “Nausicaä” em 1982, pela revista Animage, em formato de mangá como forma de pré-produção para o que se tornaria o famoso filme de 1984. Embora seja considerado parte da filmografia do Ghibli, o longa foi produzido junto ao Topcraft, estúdio do ex-produtor da Toei, Toru Hara.
No Brasil, o mangá vem sendo publicado pela Editora JBC desde 2022, com cinco dos sete volumes já lançados. Já a animação está disponível atualmente no catálogo da Netflix.