De Julian Voloj e Erez Zadok
140 páginas
Pipoca & Nanquim | 2025
Tradução: Bernardo Santana e Rodrigo Lobo
Bill Finger foi, sem dúvidas, um dos profissionais mais injustiçados da indústria de quadrinhos. Cocriador do Batman, fundamental para os conceitos que tornaram o super-herói um ícone muito além dos quadrinhos, o roteirista morreu sem os devidos créditos e reconhecimento financeiro por sua criação.
É a trajetória desse homem que Julian Voloj e Erez Zadok buscam contar em Bill Finger: À Sombra de Um Mito. No entanto, a HQ esbarra em um problema estrutural, há pouquíssima informação sobre Finger, até mesmo fotos dele são raras. O recurso utilizado é representar no quadrinho a investigação do escritor Marc Tyler Nobleman, que se dedicou a descobrir mais sobre a vida de Finger. Sua pesquisa resultou no livro que serviu de base para a produção desta HQ.
Assim, o leitor acompanha trechos da carreira e vida pessoal do cocriador do Batman, em paralelo à busca de Nobleman por essas informações. A ideia é bastante interessante, mas nem sempre a execução fica à altura. O quadrinho consegue ter êxito ao contextualizar toda a injustiça ao mesmo tempo que destaca o poder criativo e pioneirismo do roteirista. Porém algumas transições temporais são abruptas e a sensação ao final do quadrinho é de que, apesar dos esforços, ainda não conseguimos conhecer Bill Finger como gostaríamos.
Expressiva, a arte de Zadok foca nos olhares e na linguagem corporal dos personagens. O visual chama a atenção, servindo como guia para diferenciar passado e presente. Apesar desses pontos positivos, há um recurso visual que incomoda: a repetição de personagens com a boca aberta em vários quadros, para indicar o movimento de fala. Isso compromete a naturalidade das cenas e gera um efeito estático, quase caricato.
Publicado pela Pipoca & Nanquim, Bill Finger: À Sombra de Um Mito consegue nos deixar muito envolvidos nessa história real. O efeito só não é mais intenso justamente pelo modo como a obra aglutina as raras informações sobre o roteirista, sem se aprofundar nos assuntos. Mesmo sabendo que parte disso é consequência do erro histórico que foi o escanteamento de Finger, é inevitável a sensação de querer mergulhar mais fundo em sua trajetória.