De Christian Ward
160 páginas
Panini Comics | 2024
Tradução: Leo “Kitsune” Camargo e Rodrigo “Roska” Oliveira
Batman: Cidade da Loucura promete uma história misteriosa, com pitadas de horror, mas peca pelo excesso. Christian Ward assina arte e roteiro dessa história que parece querer utilizar todas as ferramentas do Cinto de Utilidades ao mesmo tempo, quando o básico poderia ter sido mais efetivo para executar a premissa interessante proposta pelo quadrinista.
Batman encontra Stanger Things: tal qual a cidade de Hawkins na série da Netflix, Gotham tem um “mundo invertido” na HQ. Secreta, com um portal guardado pela Corte das Corujas, essa versão macabra passa a ameaçar a “Gotham de cima” e seu herói. De início, o leitor está tão perdido quanto o Batman e Christian Ward começa a posicionar as peças no tabuleiro. O problema é que havia peças demais. O quadrinista incorpora vários dos elementos clássicos das histórias do Homem-Morcego, de mocinhos a vilões, e ainda precisa desenvolver a mitologia que ele mesmo propõe.
O resultado é uma história melancólica em que muitas situações parecem sobrar, com um desfecho cheio de facilitadores, que não faz jus à proposta. Há uma boa reflexão sobre como o trauma é onipresente na vida de todos esses personagens: “terapia, não treinamento”, diz Alfred em certo ponto da HQ. É uma pena que esse tópico seja repetido várias vezes, mas nunca aprofundado, de fato.
A arte de Christian Ward incorpora elementos sobrenaturais (até lovecraftianos) na Gotham do submundo e abusa das cores, com uma aura quase psicodélica, mas sempre obscura. O quadrinista faz experimentações nos enquadramentos e até no estilo do traço. Destaque para o visual do Duas Caras, um dos pontos altos da HQ.
Talvez, se seguisse a cartilha do “menos é mais”, Batman: Cidade da Loucura poderia ser um quadrinho que ao menos entretém e incorpora algo novo na tão explorada mitologia do herói. Não há espaço para tudo o que Ward propõe e temos em mãos uma história que está longe das expectativas criadas.