De Antonio Segura e José Ortiz
96 páginas
Figura Editora | 2024
Tradução: Ernani Ssó
Houve um Jack, o Estripador ou vários? Até hoje não foi possível responder essa pergunta, mas ela é essencial para a proposta de As Mil Caras de Jack, o Estripador, série de quadrinhos de Antonio Segura e José Ortiz. As histórias curtas, reunidas nesta edição da Figura, brincam com a ideia do anonimato de um dos mais famosos serial killers da história.
Publicados originalmente entre dezembro de 1984 e ao longo de 1985, na revista Creepy, os episódios são independentes entre si e não seguem uma linha do tempo linear. A ideia é, sobretudo, fazer referências à “mitologia” do assassino de Whitechapel, no entanto, sem qualquer intenção de se ater aos fatos. Segura busca fugir do óbvio, ou seja, dos crimes contra as cinco prostitutas oficialmente consideradas vítimas de Jack. As histórias da série são aquelas não contadas, crimes e situações satíricas que saíram direto da mente do roteirista, todos cometidos por um Jack, o Estripador com um rosto, uma vida, diferentes.
Segura cria uma voz interna, como um narrador, que habita a mente do sanguinário protagonista. Essa voz unifica todas as histórias, independente do rosto que Jack assume, e se torna um chamado para o humor ácido que permeia essas tramas. Apesar de curtas, elas conseguem se desenvolver com precisão, mesmo que uma ou duas soem mais apressadas.
As Mil Caras de Jack, o Estripador se beneficia do trabalho esplêndido de Ortiz. Com uma ambientação que remonta à Londres vitoriana, a arte se destaca pelo contraste entre preto e branco, perfeito para dar mais tensão às cenas. Os becos escuros de Whitechapel sem dúvidas se tornam mais impactantes nas páginas do quadrinista espanhol.
Não espere conhecer a “real” história de Jack, o Estripador nesta HQ. Nessas nove histórias, o mito é apenas o ponto de partida para a criatividade dos autores, que nos presenteiam com tramas que ampliam o mistério, sem medo de um pouco de acidez.