De Eleanor Davis
152 páginas
Tordesilhas | 2022
Tradução: Érico Assis
Em Árduo Amanhã, Eleanor Davis entrega um quadrinho sensível, que deixa no leitor uma sensação mista entre desalento e esperança. Em sua face mais potente, a obra traz dilemas existenciais sobre viver em um país que caminha para o f4sclsmo, quando somos apresentados a um Estados Unidos que ataca sua população civil em manifestações, usando a força policial, e que deixa os habitantes em constante estado de alerta.
É nesse cenário que conhecemos Hannah, uma cuidadora e ativista que vive em um trailer com seu marido, Johnny. Aos trinta e poucos anos, a protagonista tenta engravidar, ao mesmo tempo em que teme pelo mundo que o bebê encontrará, principalmente quando a sua melhor amiga, Gabby, a confronta sobre o assunto.
Maternidade, medo, relacionamentos e questões político-sociais são entrelaçadas na trama de Davis, conduzidas por uma belíssima narrativa visual. Não é difícil nos tornarmos íntimos dos personagens, principalmente de Hannah. Ao mesmo tempo são evidentes as similaridades entre o “futuro” que a autora propõe e o nosso presente, seja no cenário recente nos EUA, seja no próprio Brasil. Eleanor Davis captura bem o momento e suas angústias.
No entanto, Árduo Amanhã não se desenvolve tão bem em sua metade final. Há uma sensação crescente de tensão, mas que não corresponde com o desfecho, que deixa vários pontos sem solução propositalmente. A absorção disso fica a cargo do leitor.
Davis é uma desenhista habilidosa, com um traço fluido e delicado. Destaque para a composição dos quadros e para a naturalidade como desenha corpos nus. Toda a estética aqui é fabulosa, da capa às páginas.
Publicado pela Tordesilhas, Árduo Amanhã trabalha muito bem a área cinzenta entre esperança e desesperança. Mesmo que a história não tenha liga o suficiente nas sequências finais, a HQ consegue nos fazer ter um envolvimento emocional com sua proposta, com o tema maior que a cerca.