De Miguelanxo Prado
256 páginas
Conrad | 2025
Tradução: Claudio Martini
Dá vontade de nunca terminar Ardalén. Miguelanxo Prado nos prende em suas páginas com pinceladas que dão um tom mágico a esse quadrinho que é puro realismo fantástico. Sabela vai a um vilarejo escondido nas montanhas da Galícia em busca de informações sobre seu avô, um homem que viveu ali e emigrou para Cuba. A resposta mais óbvia para os moradores do local é que ela converse com Fidel. É assim que Miguelanxo nos apresenta esse personagem fascinante.
Um senhor já de idade, com a memória errante, Fidel sobreviveu a três naufrágios e esteve nas Américas. Será que encontrou o avô de Sabela por lá? Com um pouco de mistério e um desenvolvimento narrativo que nos faz saborear cada detalhe desta história, Miguelanxo Prado mistura memória e fantasia, em uma dança delicada. Além dos quadrinhos, o autor insere textos, documentos, elementos que costuram lentamente a trajetória de Fidel, seu passado… ou o passado de um certo Antônio. A beleza da HQ está tanto na já citada construção narrativa, quanto na dos personagens.
É melhor ler Ardalén sem saber muito sobre a trama, afinal as surpresas do enredo são deliciosas e emocionantes. Ventos que sopram do Atlântico a sudoeste e trazem memórias fantasmagóricas para o continente, baleias que surgem das montanhas, um cenário submarino em plena sala de estar. Tudo isso pode parecer loucura, mas ganha sentido e encanto quando se mergulha na história contada por Prado.
O visual é charmoso, etéreo como um sonho, e ainda assim realista. A arte dá destaque às expressões e à linguagem corporal dos personagens. O grande destaque é o modo como Miguelanxo Prado faz tudo isso pelo domínio das cores, da luz e das sombras.
Republicado pela Conrad, Ardalén é genuinamente poético. É um quadrinho que nos convida a fazer parte da obra, a observar seus detalhes, buscar respostas. Tudo isso enquanto nos encanta repetidas vezes, seja pelo texto ou pela arte, onde adoraríamos morar.