De Emmanuel Lepage
104 páginas
QS Comics | 2023
Tradução: Alessandra Bonrruquer
Um faroleiro encontra refúgio para suas memórias no isolado Ar-Men. O farol que dá nome ao quadrinho de Emmanuel Lepage é conhecido por ser o mais exposto e de difícil acesso da região francesa da Bretanha, um local perfeito para homens como Germain, que não se sentem pertencentes ao mundo que está além das ondas que o cercam.
Lepage não tem pressa. Introduz aos poucos os elementos que farão parte da trama, inclusive seu protagonista. Sem revelar muito, para dar espaço à imaginação do leitor, o quadrinista apresenta o ofício dos faroleiros, a atmosfera do farol, o período em que a HQ é ambientada — a França da década de 1960 — e, de repente, a calmaria é interrompida por uma onda gigantesca. A água que invadiu o interior do Ar-Men revela nas paredes um relato que toma conta das páginas. Germain descobre os escritos do século XIX, de um homem que participou da homérica construção do farol que hoje é sua casa. Dessa forma, Lepage insere uma história dentro da outra, misturando ficção e fatos históricos.
Ar-Men é pensado como um quadrinho para ser apreciado. Assim como havia feito em “Primavera em Tchernóbil”, o quadrinista destaca a assombrosa beleza da natureza diante de construções humanas. É na beleza dessas páginas que a HQ atinge seu ápice.
Essa construção quase elíptica de roteiro, em que uma história puxa a outra e todas se unificam dentro de uma trama principal, pode parecer confusa, como se o quadrinista estivesse desvirtuando o foco da trama. Porém, tudo se encaixa aos poucos e isso se torna um diferencial do quadrinho.
Publicado pela editora QS Comics, Ar-Men é poético no visual e no texto. Emmanuel Lepage faz as páginas terem o cheiro, a umidade, a brisa dos cenários retratados. Nunca estivemos num farol, muito menos na Bretanha… até ler Ar-Men.