De Diego Gerlach
116 páginas
Pé-de-Cabra | 2024
Alvorada dos Corações Macabros é insanamente divertido. O novo quadrinho de Diego Gerlach traz uma aura noventista, com referências ao rock da época, à série animada Beavis and Butt-Head e a teorias da conspiração que se popularizaram nas décadas passadas, mas ecoam até hoje.
Um jovem desajustado, que encontra refúgio nas letras do Nirvana, não consegue acreditar quando escuta a notícia da morte de Kurt Cobain. Esse é o ponto de partida para uma conspiração que ganha mais um elemento com a morte do baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, quase 30 anos depois. Curioso que Dave Grohl tenha sido colega de banda dos dois? É o que nosso protagonista pensa. O nonsense escala a cada virada de página, quando a trama embarca em um delírio que poderia ter saído direto de fóruns sobre reptilianos e QAnon.
É preciso embarcar no caos e se deliciar com as passagens divertidíssimas e com as reviravoltas. Ao mesmo tempo, a melancolia está ali. Um sentimento difícil de denominar, que mora no protagonista desde as primeiras páginas e que não o abandona nem quando se torna uma espécie de celebridade. Somos testemunhas disso e, apesar das risadas, esse desconforto é transmitido também a nós leitores. Afinal, a loucura conspiracionista que toma conta da obra é, mais do que nunca, parte da realidade que enfrentamos. Não é preciso ir muito longe para constatar.
Na arte, Gerlach abusa das referências dos anos 90 e escolhe com precisão as passagens em que precisa de mais ênfase nas feições dos personagens, seja com mais detalhamento ou com a falta dele. Impossível passar ileso ao olhar absolutamente insano de Dave Grohl, enquanto carrega um pentagrama na testa e brada “vou ser o cara mais bacana do rock”, junto de uma risada maléfica. Apenas uma amostra do que Alvorada dos Corações Macabros proporciona.
Publicado pela Pé-de-Cabra, o quadrinho de Diego Gerlach é daquelas leituras em que a melhor recomendação é se deixar levar. Primeiro pela premissa, no mínimo, brilhante. Depois pelo caos agridoce que a trama nos proporciona. Não é disso que estamos cercados?