De Maco
64 páginas
Hipotética | 2023
Tradução: Iriz Medeiros
Aloha é uma deliciosa experimentação de quadrinhos. Mais do que contar qualquer história, Maco quer brincar com os elementos que regem essa linguagem. Como Alice no País das Maravilhas, ela descobre mundos oníricos, vive situações curiosas, pula de uma fantasia para a outra. O que conecta essa viagem são quadros, requadros e sarjetas. Os limites (e a falta deles) dos quadrinhos.
Maco faz uma representação de si mesma transitando entre realidades. Na maior parte do tempo, somos guiados por seus movimentos, em uma dinâmica que funciona dentro dos quadros, mas também por toda a área da página. O que torna Aloha tão divertido são os caminhos que a autora nos leva a percorrer, com o olhar, com os dedos apontados para seu trajeto. Não são recursos inéditos, claro, mas a execução é ótima.
Nossa protagonista passa por casas abandonadas, pela Grécia Antiga, por lugares cobertos de neve ou água. Em certos momentos parece até que ela está em um jogo de videogame, à la Super Mario Bros, e que atravessamos cada fase ao seu lado. Mas um dos pontos altos de Aloha está em uma cena que não é tão inventiva no uso da narrativa gráfica: a cena em que Maco conversa com a Morte. Ou com um esqueleto que adora jardinagem e por isso carrega uma foice. É um diálogo bem-humorado, inteligente, e que dá um respiro ao gibi.
Já que a arte é tão importante para esse quadrinho, é preciso dizer o quanto a quadrinista equilibra seu traço elegante, com linhas extremamente finas, aos espaços em branco. Mas há também cenas mais detalhadas, como uma sequência toda em um enquadramento visto do alto.
Talvez, se a expectativa for por uma obra com um roteiro tradicional, os leitores mais desavisados podem não embarcar na viagem proposta por Maco. Porém, quem reparar bem na capa da editora Hipotética para Aloha, já pode perceber que ali estamos diante das premissas dessa HQ: ser uma obra em que a mídia de quadrinhos é a protagonista, tanto quanto a própria autora.