De Ademar Vieira e Jucylande Júnior
136 páginas
Black Eye Estúdio | 2020
Em Ajuricaba, o roteirista Ademar Vieira nos transporta para a densa floresta Amazônica, durante o período colonial. Lá acompanhamos os feitos do líder dos Manaos, Ajuricaba. O guerreiro foi um marco da resistência ao poder colonial e aos atos cruéis da Coroa Portuguesa, ao unir diferentes nações indígenas (inclusive, tribos inimigas) contra os palyhatys, ou seja, o homem branco.
No início a leitura nos pareceu um pouco desconexa, com várias passagens acontecendo em localidades diferentes de onde hoje é o estado do Amazonas. No entanto, ao longo da trama, todas as pontas vão se encaixando e formando a história do guerreiro protagonista, como ela foi relatada na época. É claro que, aqui, Ademar inclui elementos ficcionais, mas a trama, em si, é fruto de muita pesquisa em busca da precisão histórica.
Bem ritmada, principalmente após a primeira metade, a HQ traz uma ambientação detalhista, utilizando termos na língua Manao que são traduzidos em notas de rodapé e também um pouco do português do período. A caracterização dos personagens é bem rica, mostrando a diversidade dos povos indígenas que habitavam a região onde o quadrinho se passa. Apesar de ser bem fluida e estilizada, a arte de Jucylande Júnior (com arte-final de Tieê Santos) nos pareceu um pouco inconstante em alguns momentos, mas nada que atrapalhe a experiência de leitura.
Ajuricaba é uma trama violenta, com muita ação e que só reforça a brutalidade do genocídio indígena que aconteceu no nosso país. Conhecer a história de Ajuricaba, essa personalidade tão simbólica, é essencial para entendermos de que maneira Brasil foi formado e como se deu a resistência das nações indígenas que se rebelaram.