De Mary Talbot e Bryan Talbot
144 páginas
Veneta | 2024
Tradução: Ludmila Hashimoto
Louise Michel foi revolucionária em essência. Seu papel para o estabelecimento da Comuna de Paris é seu feito mais lembrado, embora sua trajetória ainda seja pouco popular, principalmente fora da França. Em busca de apresentar essa personalidade histórica que, literalmente, moveu multidões, Mary Talbot e Bryan Talbot desenvolveram a biografia A Virgem Vermelha, recém-lançada pela Veneta. Embora seja uma obra introdutória, a trama toma caminhos mais complicados que o necessário e acaba por deixar lacunas ao longo da história.
Como uma escolha de roteiro para evitar um enredo linear, o roteiro usa como recurso contar a história de Louise Michel, dias após sua morte, a outra personalidade, a escritora Charlotte Perkins Gilman. Assim, o tempo se divide entre flashbacks da vida da protagonista e o momento da narração, quando seu cortejo fúnebre percorre as ruas de Paris. Vemos como Louise se comportava, sua defesa das lutas sociais, da classe trabalhadora e da igualdade de gênero, além da importância de sua atuação.
Mesmo envolvidos pela trajetória de Louise Michel, é difícil não se sentir perdido em alguns momentos ao longo da HQ. Muito do contexto histórico que levou à Comuna de Paris é suprimido e o movimento soa como um emaranhado de situações isoladas. Os diálogos, em parte baseados em escritos de Louise, às vezes parecem pouco naturais.
Como alternativa para permitir ao leitor um mergulho mais profundo, o quadrinho traz, ao final, conteúdo de apoio assinado por Mary Talbot. Porém, adoraríamos ver um pouco disso nas páginas do próprio quadrinho.
Na arte, Bryan Talbot usa tonalidades de preto e cinza, contrastados com o vermelho, cor auto sugestiva. As feições dos personagens são sempre bem expressivas e a representação de época colabora na imersão. Destaque para as páginas duplas em que o visual em dois tons ganha ainda mais força.
A Virgem Vermelha funciona em seu papel introdutório, mas ainda parece insuficiente para entender a potência que foi Louise Michel. A grande questão não diz respeito à abordagem aprofundada ou não da biografada, são as escolhas na construção do quadrinho, que reduzem o impacto dessa vida fascinante.