De Zidrou e Jordi Lafebre
128 páginas
Faria e Silva | 2021
Tradução: José Ignacio Mendes
O ano é 1937 e Aimé Louzeau acaba de integrar a equipe da Vícios, uma brigada policial parisiense destinada a combater “imoralidades” como a prostituição, as drogas e a publicação de materiais obscenos. É a este mundo de pecadores que Zidrou e Jordi Lafebre nos convidam a adentrar em A Mundana. Pecadores que não estão apenas nas ruas de Paris, mas também na própria equipe da Vícios, nas sacristias, no seio familiar.
É que A Mundana é feita de personagens falhos, incoerentes, ou seja… Humanos. E os seres-humanos pecam. Ou erram, como achar melhor. A moral é um tema que é constante durante toda a obra. Religião, pulsões, paixões e erotismo estão todos entrelaçados quando descobrimos sobre a “origem” de Louzeau e o escândalo familiar que envolve seus pais, ou quando o vemos se transformar cada vez mais em um legítimo oficial daquela brigada policial, com seus próprios “vícios”.
Ao mesmo tempo, o roteiro de Zidrou se dedica a mostrar as transformações políticas na capital francesa com a ocupação nazista (à medida que o tempo passa, na trama) e a perseguição aos judeus no país. Um episódio um tanto esquecido do Holocausto ganha destaque aqui: mais de 13 mil franceses, judeus, foram reunidos e presos no Velódromo de Inverno e encaminhados o para campos de concentração. Pouquíssimos retornaram.
Enquanto Zidrou mostra suas habilidades na construção de um roteiro realista e dinâmico, que mescla muito bem fatos históricos e ficção, é até difícil encontrar palavras para a arte de Jordi Lafebre. Seu trabalho é fundamental para humanizar ainda mais A Mundana, seja nos corpos e expressões dos personagens, seja no design das páginas. Outro destaque são as cores, sempre belíssimas e com paletas que contribuem na distinção dos tempos da trama.
Publicado pela Faria e Silva, A Mundana é um quadrinho agridoce. Durante a leitura, percebemos a dualidade de nossas vidas, o peso da moral, a repressão aos sentimentos mais intensos. A dupla de Verões Felizes entrega uma obra cheia de tensão, que nos torna observadores de uma época, assim como daqueles personagens tão críveis e de seus demônios.