De Carlos Trillo e Domingo Mandrafina
224 páginas
Comix Zone | 2020
Tradução: Jana Bianchi
A Grande Farsa é daquelas histórias que nos conquistam logo nas primeiras páginas. Carlos Trillo demonstra domínio da narrativa pela maneira como apresenta seus personagens e a trama inicial. Ambientada em um país latinoamericano em regime ditatorial, a história segue Malinche Cinturión, a delicada Virgem Intocada, sobrinha do general que comanda o país e conhecida por sua pureza que é capaz de operar milagres. Porém, a mocinha é amante do tio, que criou o mito de sua virgindade para inspirar a castidade das mulheres do país. Sendo castas, elas terão menos filhos e, com isso, menos futuros guerrilheiros para combater o regime.
Porém, além do tio, que a força em um relacionamento incestuoso e abusivo, a “falsa-virgem” também se relaciona com outros homens. Quando uma dessas aventuras é descoberta, ela precisa da ajuda do irmão de seu amante, o ex-policial Donaldo Reynoso. Cheia de elementos noir e críticas aos regimes totalitários, A Grande Farsa vai de novela a trama política, com muitas doses de realismo mágico.
Trillo nos faz ter um envolvimento ímpar com os personagens. Com um ritmo entrecortado por quebras da quarta parede de personagens que funcionam como narradores, o quadrinho embala o leitor numa leitura divertida. A HQ ainda conta com um humor bem encaixado e momentos de tensão. Tudo isso fica ainda melhor com o traço belíssimo de Domingo Mandrafina, responsável por uma ambientação que só completa a história de Trillo. Totalmente em preto e branco, a arte está entre os muitos pontos altos do quadrinho.
Dividido em duas histórias, A Grande Farsa tem personagens memoráveis. Destaque para o temido Iguana, o torturador oficial do regime, que possui toda uma aura mística e de medo (tanto que a segunda trama do álbum é completamente voltada para essa figura). Sem dúvidas, uma das nossas melhores leituras de 2020 e um resgate preciso da editora Comix Zone.