De Alcimar Frazão, João Azeitona e Santos
88 páginas
Mino | 2024
A violência que pode emanar da crença é algo misterioso e aterrorizante. A Filha do Homem, HQ de Alcimar Frazão, João Azeitona e Santos, aborda com um olhar provocador, os perigos do fanatismo religioso e os mistérios da graça divina.
A trama segue um pastor, que atormentado por segredos do passado, não tem conseguido pregar em sua igreja. Desde que passou a ter visões de uma figura sombria, ele não tem mais paz e parece não encontrar o caminho no seu trabalho. Como consequência a congregação tem queda na arrecadação do dízimo e o protagonista sofre pressão por parte de outros líderes religiosos.
Bem amarrada e coesa, a história vai e volta no tempo situando o leitor no passado do pastor. Aos poucos, entendemos os motivos dessas perturbações, a sua relação com os fiéis, o uso da fé para objetivos perversos e egoístas e os destinos sombrios de alguns personagens. O uso de passagens bíblicas é constante, com trechos que reforçam o medo da punição divina e, ao mesmo tempo, a hipocrisia de quem deveria ser um exemplo.
Apesar de todo o drama familiar, A Filha do Homem ganha peso durante suas sequências de terror. A trama tem um desenvolvimento trágico e, por mais que tenha seus momentos clichês e previsíveis, os autores fazem um retrato muito decente de uma realidade assustadora, ancorada em questões do cenário neopentecostal brasileiro.
Assim como o tempo no quadrinho, os desenhistas se alternam entre passado e presente. Destaque para os momentos em que temos elementos sobrenaturais das visões do pastor nas composições de páginas.
Lançamento da Mino, A Filha do Homem é pouco inovador em sua construção, no entanto, entrega uma história bem contada sobre os limites da religiosidade, que é muito mais realista do que se imagina.